segunda-feira, 27 de abril de 2009

Será que eu... Posso...

-Será que eu... posso ficar com você?
-Está com medo do escuro?
-Não é isso...
-Teve um pesadelo?
-NÃO É NADA ISSO!
Será que eu posso? Ficar com você? Por que toda noite é a mesma coisa, todos se deitam em suas camas e fecham os olhos para fugir da realidade, mas os meus ficam abertos. E a cada respiração, eu sinto meu coração encolher e expandir, eu posso sentir meu sangue correndo e minhas mãos tremendo, puxando os lençóis. Todos os dias eu ando encolhida, eu olho para o chão, mas quando você está por perto... Eu consigo descansar e até sorrir.
-Me desculpe, você não parece muito bem...
-Não encosta em mim...
Será que você não percebeu, que qualquer toque seu, como agora na minha mão, esse olhar sobre mim... Só isso é o suficiente para me deixar indefesa. O meu corpo inteiro se solta, como quem se entrega ou desiste, mas você nem nota, ou é simplesmente cruel. Sorrindo pra mim, me puxando pra perto e fazendo carinho nos meus cabelos, dizendo que está tudo bem. Mas não está.
-Por favor... Não....
-Está bem... Mas você não queria ficar aqui?
-Por que?
-Por que? O que?
-Você me deixa desse jeito, por que?!
-Me desculpa, eu não queria fazer você chorar...
Mas você faz, faz cada parte de mim doer, cada vez que desvia os olhos. E eu só queria saber, se eu posso ficar com você. Por que do seu lado é morno e gentil, porque do seu lado eu consigo dormir, porque do seu lado... É um motivo a menos para chorar. Se os seus braços continuarem me envolvendo, eu não sei até quando o meu corpo vai existir, ou se ele vai simplesmente desaparecer nos seus braços, só para que cada cinza, cada suspiro que restar de mim, possa ser levado com o vento, para um lugar que eu não sinta sua falta. Mas os meus dedos se agarram a sua roupa, tentando me segurar aqui. Por que tudo que eu quero saber é... Se eu posso ficar com você.

Seu

Se eu posso ser sua,
Não há razão pra ser mais nada.
Se faço o que gosta,
Nunca me sentiria envergonhada.

Não é que não tenha vontade,
É que ela não me pertence.
Se não me entende de verdade,
Apenas pare e pense.

Quando foi que me viu sorrir?
Alguma vez eu já chorei?
Quando meu corpo se partir,
Acha que eu o deixarei?

Se me comportei mal,
Aceito qualquer punição.
Mas saiba que é bem normal,
Eu obedecer, eu entregar,
Eu esquecer... minha própria razão.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Num vidro


Como um inseto no vidro
Brigando com a própria imagem.
Se sentido pouco a vontade,
No espaço tão restrito.


Se debatendo bravamente,
Tão descontroladamente.
Não sabe que é em vão?
Se esmagar com sua mão.


Como um inseto no vidro,
Ferindo a si próprio então.
Sem aviso de antemão,
Que seu tempo é restrito.


Pois o ar se perde, ruidos calam,
E as forças se esmigalham.
Nas pancadas furiosas no teto,
Na parede e no próprio inseto.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Drifting

À deriva num mar de memórias,
Sem sinal de uma praia qualquer.
Tudo que resta são velhas histórias,
De tempos que ou se tem ou se quer.

Seus tempos, montanhas altas.
Suas memórias, vales profundos.
Coisas básicas, o que me falta.
Trilhas perdidas de um velho lobo.

Embarcação sem vela ou rumo,
Vagando pela noite eterna.
Sorriso breve, olhar soturno,
Suspiros escorados na janela.

Tudo que resta, caminhos invisiveis,
Que se embrenham entre outras rotas,
Outras naus, outros indizíveis.
Juntando rotas, que se afastam tortas.

Poderia cruzar, vidas, memórias,
Poderia compartilhar os sentidos.
Mas ainda assim se acaba,
À deriva, vagando sozinho.