sábado, 5 de dezembro de 2009

Cara ou coroa?

Não havia nada que pudesse fazer, pois já não era uma questão de vontade. Conhecia muito bem os próprios desejos, mas em algum lugar além do sutil castanho havia desejos de outra pessoa e os desconhecia. Podia ter intuições, palpites, sentir leves variações, mas nunca teria certeza e, portanto, não era uma questão de vontade. Se tivesse alguma certeza na vida poderia estender a mão, àqueles poucos centímetros finais, mas não podia fazer nada.
-Bla bla bla...
Nem prestava muita atenção no tema da conversa, nem na direção que ela ia, jogava palavras fora para dar continuidade, sem o menor interesse no assunto, só queria continuar ali. As palavras fugiam, derramadas num ritmo continuo e inexato, porque nenhuma delas expressava o que realmente pensava, sentia ou que queria dizer, perguntar, fazer. Você me ama? Não é exatamente uma pergunta difícil, mas soa tão trivial, estúpida. Que tipo de idiota não sabe quando é amado? Então a conversa se estendia sem objetivo ou significado algum.
-Vamos voltar...
A sentença, o final da conversa, a volta ao silêncio inadequado e torturante, a proximidade numa distância de olhares que não se encontram. Não havia nada mesmo que pudesse fazer? Nenhuma certeza? Nenhum ímpeto de coragem e despreocupação? Irrelevante às dúvidas e incógnitas? E as palavras saem na minha mente, apesar de meus lábios não a carregarem até seus ouvidos:
-Eu queria beijar você...~
O primeiro impulso, a primeira vontade, mas não era só isso. Queria tirar seus óculos e os colocar de lado, passar os dedos entre seus cabelos, puxar para perto pela cintura, envolver nos braços, sorrir ao lado, recostar em seu ombro, contar algo ao ouvido, entrelaçar dedos, puxar sua mão. Mas o que eu posso fazer, na dúvida de sua reação? O sucesso e felicidade da proximidade ou então a derrota frustrante de uma maior separação. Cara ou coroa? Eu jogo a moeda?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Saudades

Arranhando a superfície
Do que nunca vou alcançar.
Como se fizesse diferença,
Como se não pudesse duvidar.

Eu não sei o que sinto,
Provavelmente não é nada.
Mas eu sinto falta disso,
Sem nem saber o que me falta.

Ainda que não conheça amor,
Eu sei que teria saudades do seu.
Ainda que não conheça a dor,
Me dói algo que se perdeu.

Passando os dedos na superfície,
Sem nunca poder tocar o fundo.
Mesmo que eu não saiba de nada,
Eu sei que quero algo fora do meu mundo.

Eu não conheço,
Eu não sinto,
Mas que falta me faz.