Ta ai o final da sério meio shoujo também. Mas a ce-chan gosta e eu me diverti escrevendo então tudo bem... ^^ V - Minha sorte, meu amor, Gato Preto. -Até que enfim, Ce... Você me ama pelo que eu sou. – a voz vinha de nada, de tudo, de lugar nenhum, de dentro, de fora, do avesso. Parecia a voz do Seth, mas ela era morna de um jeito que ele nunca era. – Diz que me ama...
-Onni? – ela ficou olhando pro gato, o corpo morto sobre a mesa.
-Você me ama? – insistiu.
-Por favor, não me deixa sozinha... – ela pediu se ajoelhando na frente da mesa, sua vista estava embaçada.
-Eu alguma vez te abandonei? – ela fez que não com a cabeça, devia estar ficando louca pra ouvir vozes, Seth continuou parado na entrada calado. – Eu me apaixonei por você no momento que você viajou nos meus olhos, Ce...
-Onni, eu... Eu me apaixonei por você também... – ela soluçava – Eu tentei te encontrar no Seth por causa disso, mas... É só você... – ela levantou o rosto e o corpo do gato começou a se dissolver sobre a mesa como cinzas carregadas pelo vento.
-Que bom...
-Onni! – ele sumiu, invisível no ar.
Um vazio, um vazio maior do que ela jamais sentiu dentro de Seth, agora se alastrava dentro dela. Onni não estava mais lá, não ia mais se enroscar nas suas pernas ou lamber seu queixo em busca de carinho, não ia pular no seu colo ou seguir os seus passos, tinha simplesmente sumido. Um vazio enorme, sentia que nunca mais ia falar com os olhos ou sorrir calorosamente, ia ser que nem o Seth de alguma forma. Um enorme corpo vazio, mas então sentiu um abraço, um abraço leve como os passos de um gato.
-Você me deu tanto trabalho. – A voz era a mesma de antes, mas estava mais morna.
-Seth? Não... Esse tom... Onni? – ela não queria se virar.
-Quantas mais das minhas vidas eu vou ter que te dar? – ele perguntou com um sorriso pontudo que ela sentiu no seu pescoço, a segurando perto. – Eu sou apenas um gato, mas se eu achasse alguém que me quisesse eu poderia voltar ao meu corpo humano, pelo menos de vez em quando.
-O Seth é... – ela murmurou engolindo em seco.
-É meu corpo humano... – Ele riu ainda abraçado nela – Eu não queria passar nenhum segundo longe de você, mas você só olhava esse corpo e fugia dos meus olhos... Se você não me amar, do jeito que eu sou eu não posso existir.
-Os mesmos olhos... – ela murmurou apertando os braços dele, sentindo o toque leve, aquela sensação morna. – Aquele vazio...
-Eu não posso ocupar dois corpos ao mesmo tempo. – ele explicou.
-Aquelas palavras cruéis...
-Me desculpe, mas eu não podia controlar ou evitar. Eu estava no outro corpo.
Ela se virou para olhá-lo, os olhos cheios de lágrimas que escorriam, o rosto era de Seth, mas aquele sorriso de dentes pontudos e o jeito com que falava, o toque suave. Tudo aquilo, aquilo era tudo o Onni. Não conseguiu evitar sorrir e se jogar nos braços dele que caiu de costas no chão com ela o abraçando, ficou calado roçando o rosto contra os cabelos dela que tinham um perfume bom, teria ronronado se ainda fosse um gato, mas aquele corpo foi destruído esmagado, agora estava no outro.
-O que vai acontecer agora, Onni? – Ela perguntou o segurando com força – Eu não... Eu não quero ficar sem você!
-Eu não posso ficar assim pra sempre, mesmo tendo mais vidas... Eu não posso ficar como Seth, humano, por muito tempo. – ele fez carinho na cabeça dela.
-Mas eu... Eu... – ela ergueu o rosto para encarar os olhos dele, ele sorriu.
-Você me ama?
-Amo! – ela falou a beira de outro ataque de choro, se perdeu naqueles olhos e o silencio correu junto com o tempo.
-Mesmo que eu seja só um gato? – ele perguntou e ela acenou que sim com a cabeça, ele acariciou o rosto dela, um toque tão leve. – Então eu nunca vou te deixar.
Ele a beijou pela primeira vez, por mais que visse o rosto de Seth, sentia as presas de Onni e a sensação gostosa de quando ele andava por entre suas pernas, o pelo macio e o jeito carinhoso de agir. A noite passou e ela não queria ele deixar ir pra lugar nenhum que não fosse com ela, não importava se o corpo era de Seth, ou se Seth e Onni eram o mesmo gato, o que ela amava era aquele jeito morno e sorriso afiado. A sorte dela, era aquele amor, um gato preto que cruzou seu caminho na sexta feira treze.
A casa ganhara vários porta-retratos, Seth sorria com aqueles olhos azuis em todos eles, olhos vazios, mas o sorriso morno denunciava que ele não era tão oco quanto o olhar impassível deixava a entender. Um conjunto de coleiras diferentes e uma cama de gato ao lado da cama, ela tinha acabado de acordar e ficara olhando o pequeno Onni dormindo ao seu lado, ele sempre ficava na cama dela e quando acordava seus olhares cruzavam, azul e verde sonolentos sob a luz da manhã.
-Ce, o Seth viajou de novo? – sua amiga perguntava na mesa de café da manhã enquanto virava um copo de suco.
-É. – Célia respondeu com Onni no colo e um sorriso vago, era difícil explicar então era melhor nem tentar. Não iam acreditar e aí não seria real e se não fosse real ela não ia agüentar.
-Você precisava arranjar um namorado melhor sabia? Ele sempre te deixa sozinha!
-Não. Ele nunca me deixa sozinha, não é Onni? – ela falou sorrindo para o gato que lambeu sua boca.
Tinha seus problemas, ele não podia ser sempre humano, não por muito tempo. A maior parte do tempo ele tinha que ser o que realmente era, um gato, então eles passavam muito tempo assim, mas de vez em quando, sempre que possível, ele podia ser o Seth humano e compartilhar com ela o que os outros reconheciam como um relacionamento. Homem ou gato, ela o amava do mesmo jeito, amava o gato e o namorado do mesmo jeito e ninguém notava? Notavam, mas ninguém via que sempre que um estava ao lado dela o outro estava ausente, por que ele agora só tinha um corpo para ser gato e um corpo para ser homem.
-Você trata esse gato muito estranho, Ce!
-Eu amo ele, e daí?
-Você sabe que ele é só um gato, não sabe? – a outra perguntou fazendo caretas, Onni arranhou o ar.
-Não é só um gato. É minha sorte, meu amor, um gato preto... – Célia respondeu beijando Onni que deu um sorriso pontiagudo, ser amada por um animal. Amar um animal... Qual o problema disso?