segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O que você quiser, meu mestre...

Não havia nenhum barulho naquele quarto, além do som da respiração ofegante que fazia a renda subir e descer no embalo de uma batida de coração nervosa. Os dedos apertavam a seda e os lábios semi-abertos tentavam murmurar algo. Mas era só um pesadelo, o fato de abrir os olhos para o teto vazio deixava isso claro, ainda assim seu coração não conseguia se acalmar, estava assim fazia muito tempo e tudo era culpa dele. Culpa? Não! Jamais, sequer podia pensar dessa forma. Se levantou caminhando até a porta, acabou parando com a testa recostada na madeira, o coração saltava querendo cair fora de seu corpo.
-Mes...
Não, não ia cair, estava bem seguro. Seguro com pele, dedos, garras... Estava preso naquelas mãos que ao mesmo tempo que afagavam feriam. As mãos tocaram o metal frio da maçaneta, mas a respiração ofegante não lhe dava coragem para abrir a porta. Do outro lado veio a voz, a voz que enchia sua cabeça.
-Você quer alguma coisa, Nana?
-Mes-tre... – acabou escorregando quarto a dentro, a porta abriu muito rápido e foi parar no chão, os cabelos jogados sobre o rosto, olhos baixos. – Por favor...
-Por favor?
Não suportava olhar para ele e a mera sensação de ser olhada lhe ardia o corpo, ali parado sentado na janela, os olhos brilhando na escuridão, uma frieza indiferente contrastando com um sorriso gentil. Se arrastou na direção dele com passos incertos, os joelhos tremendo e as mãos apertando a própria camisola.
-Se vai curar seu vazio... Se for pra aliviar a sua dor... Por favor... – acabou caindo de novo, de joelhos aos pés dele como sempre parecia seu lugar, sentiu a mão dele lhe tocar os cabelos, sua cabeça encontrou abrigo no colo dele. – Por favor, tome meu sangue... Se por um segundo lhe fizer bem, mestre, adoraria ser útil...
-Boba. Você está chorando...
Levantou o rosto dela com um simples dedo sob seu queixo, ela estava mesmo chorando, as lágrimas desciam contra sua vontade. Mordia os lábios nervosa, vendo aquele sorriso de presas afiadas que não lhe davam medo, apenas calor. Chorava, sofria há dias o vendo sofrer. Se pudesse, se pudesse por um momento consolar aquilo que via consumi-lo silenciosamente durante a noite, ficaria feliz.
-Mestre...
-Shhhh....
Ele cobriu seus lábios a puxando pela nuca, se movia tão leve quanto uma marionete nesse ponto, indo parar sobre o colo dele, uma testa sobre a outra, olhares que ela desviava e que ele consumia. Seu rosto estava quente, seu peito inchado pelo coração que acelerou, os olhos mareados. As mãos dele a seguravam, prendiam, assim como seu coração estava preso.
-Olhe para mim, Nana... – ela pediu. – De todas as pessoas, você é a única que não precisa desviar o olhar de mim. Está com medo?
- Não...
-Que bom. – ele sorriu, ela quase nunca via ele sorrindo. Mas estava sorrindo pra ela, a felicidade era inevitável.
-É isso que você quer, Nana? – ele perguntou afastando os cabelos dela, os jogando para trás dos ombros pálidos. – Virar alimento...
-Eu... Quero ser útil para o mestre... Eu quero... Ah!
Foi um baque, foi muito rápido o movimento dos braços dele a jogando contra a vidraça, as costas sobre o vidro e as mãos dele na sua cintura e ombro. Os olhos dele eram vermelhos, não como de um monstro, mas de alguém que chora... Ele estava miserável há muito tempo. Seu rosto estava corado, sentia a respiração dele no seu pescoço enquanto as garras cortavam parte de sua camisola expondo a pele. Ele baixou o rosto, procurou abrigo para sua face junto ao ombro dela a abraçando com carinho.
-Mestre...
-Me desculpe, Nana. Eu te assustei... – ela segurou a cabeça dele, como um garotinho o consolando.
-Não, mestre. Eu nunca vou ter medo de você.
-Obrigado por tudo, Nana. Eu não... Não vou fazer nada, só me deixe ficar aqui mais um pouco. – ele pediu fechando os olhos, encontrando alguma paz naqueles braços.
-O que você quiser, mestre.

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