sábado, 7 de fevereiro de 2009

Nocaute Deck

I
A tensão na corda era óbvia quando ele era jogado nela, depois ricocheteava de volta para o centro levando outro chute ou soco, os musculos se comprimiam tentando diminuir o impacto dos golpes, mas era dificil se concentrar na defesa ao mesmo tempo que queria tomar cuidado para não machucá-la. Olhos negros e cabelos da mesma cor bagunçados, curtos como os de um garoto qualquer ali, estava brava com ele? Não, aquilo nos olhos dela era desapontamento.
-QUE DROGA, NOVE! – ela berrou colocando os punhos enfaixados na cintura.
-Dama.... – ele começou a murmurar, mas ela o socou no estomago. – Urg!
-Eu já te falei mil vezes, o problema não é você bater numa garota! É bater em que é fraco ou não pode se defender! PARA DE SE SEGURAR!
-Mas...
-Idiota! – ela chutou a canela dele.
-Já chega, Dama, ele é só um número você vai acabar quebrando ele inteiro.
Ela virou a cara irritada, odiava quando o Valete vinha daquele jeito tentando trazer paz ao mundo, pulou as cordas que delimitavam a arena e foi batendo o pé até os chuveiros. Ele odiava deixá-la brava, mas como um número mesmo que não se segurasse não ia conseguir sequer acertar ela! Estava ali há poucas semanas, além dela só havia uma outra garota, a Quatro. A policia os considerava uma gangue, mas eram só um grupo de pessoas que gostavam de brigar e lutar, Nocaute Deck. Ao membros iam do Dois ao Dez, depois vinham as cartas reais: Valete, Dama e Rei. E acima de todos alguém que sequer lutava, mas que era o fundador do grupo: Ás.
-Lutando com o Nove de novo? – Quatro perguntou, era uma loira de rabo de cavalo que sempre estava sorrindo, mesmo quando estava apanhando, completa masoquista.
-É tão óbvio assim? – Dama perguntou abrindo a torneira, dava pra ver fumaça saindo dela de tão irritada. Odiava quando a tratavam como frágil.
-Eu nem sei porque ele se preocupa tanto, só sem roupas que você lembra uma mulher. Fora isso eu sempre achei que você fosse um dos garotos...
-Já está indo pra casa? – ela não se incomodava com aquelas comparações.
-Já, eu tenho um encontro na Zona de Tiro! – Quatro fez o sinal de uma arma com as mãos.
Ninguém sabia o nome de ninguém, na verdade não importava o nome deles. Tinham seu ranking e, às vezes, ganhavam algum apelido, mas os nomes eles deixavam em casa, na escola ou no trabalho. Dama, era Dama, não precisava ser mais ninguém naquele grupo limitado, não podiam haver mais pessoas que cartas num naipe do baralho. Só estava meio vestida quando Valete entrou para se trocar, depois vieram os outros, mas passavam como fantasmas. Não era só a Quatro, ela dentro do grupo sempre foi um dos garotos.
-Dama, me desculpe. – era nove parado do lado dela, de cabeça baixa, a pele morena e os cabelos castanhos quase inexistentes de tão curtos, tinha olhos castanhos timidos e preocupados. – Dá próxima eu...
-Esquece... – ela falou colocando um blusão largo por cima da camisa, pegou seu boné e foi andando até a saída. – Cansei de fracotes que nem você.
-Cara, acho que você levou um fora! – Valete falou o puxando pelo pescoço. – Não fique assim, eu tenho quase certeza que não é pessoal!
-Alias, nós temos uma aposta no grupo... – Dez falou puxando uma caderneta.
-Aposta? – Nove perguntou estranhando.
-É, a maioria acha que ela é lésbica. Só o Rei apostou contra, quer entrar?
-Não!
Todos eles eram insignificantes, cartas menores. Fora a Dama que ocasionalmente lutava com todos, apenas o Valete se envolvia com eles, o Rei parecia ter um mundo próprio não conseguia imaginá-lo numa aposta daquela. Valete era um loiro de cabelos curtos e franja comprida, tinha uma tatuagem de espadas num pulso e a de copas no outro, era um dos membros mais antigos do Nocaute Deck. Os números menores não entendiam como ele se tornara uma carta real, sempre o viam se excercitando, mas nunca lutando, apenas fazia piada de que era tímido, ou então um amante e não um lutador.
-Nove... Aonde você está indo? – Valete perguntou vendo o outro fazer uma curva para o lado errado.
-Eu ouvi um barulho atrás do galpão. – Nove falou saindo correndo.
-Ei, garoto!
O garoto finalmente entendeu porque tantas vezes Dama aparecia com faixas nos braços e pernas, atrás do galpão havia uma enorme prateleira na parede, que ela enchia de garrafas de vidro e as quebrava com murros e chutes, o blusão jogado de lado e a cabeça baixa para o boné proteger os olhos, era um ritual diário depois que a tarde chegava, não queria ir para casa tão cedo. Valete o puxou pelo ombro e mandou fazer silêncio, o loiro lembrava uma vez que alguém gritou e no susto ela chutou uma garrafa na cabeça do cara.
-Você podia trabalhar numa recicladora no lugar daquelas máquinas de moer vidro, Dama.
-Rei... – ela murmurou virando para olhá-lo, levantou o boné e esfregou o suor da testa com o pulso já que as mãos estavam cortadas aqui e ali. Já não se incomodava com pequenos cortes.
-Você devia ir pra casa, é noite de semana você tem aula amanha. – ele falou jogando um rolo de ataduras pra ela. – Suas professoras nunca perguntam como você se machuca?
-Desde quando alguém se importa? – ela perguntou dando as costas pra ele, mas começando a enfaixar as mãos.
-Boa noite, Dama! – o Valete falou acenando enquanto ela passava.
-Vá pra casa também, Valete. – Rei falou o encarando. – Que eu saiba você está reprovando em todas as matérias, exceto número de advertências por dormir na aula.
-Você parece mais velho que o Ás falando assim, Rei! – Valete deu risada arrastando o Nove dali. – Vem, garoto... Antes que sobre pra você também...
-Desde quando ela...?
-Sempre. – Valete respondeu com um sorriso.

Um comentário:

Ceci disse...

Mais uma história :D
Essa,pela essencia,acho que não vai expor seus monstros e criaturas de outro mundo (ou quem sabe deste?),mas sim,uma gangue que pode tanto aprontar mto,como ensinar tbm.
É,eu lembrei de um filme onde o tema central era tipo esse e no final,ou até mesmo no desenrolar da história,algo era ensinado de uma forma meio diferente e meio fora do convencional,mas ta,prometo não ficar pensando no futuro dessa e nem ver coisas 'a la pollyana' =x

Um dos desafios,pelo menos pra mim que não me dou mtooo bem com números é associar os mesmos as personagens hauahauahu Mas as caracteristicas ja estao delineando tdo e deixando cada coisa no seu eixo,de modo prático ;D

Bjãão mo,agora vou pros poemas xD