terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Costume

8
-Eu sabia que vocês viriam... – os longos cabelos negros lisos, os olhos cor de madeira acentuando a pele pálida do rosto. – Mestre Ukko, Tapio...
-Brita... Por que não fez seu trabalho? – Ukko perguntou se aproximando da garota no jardim, parada com um enorme bastão cheio de selos.
-Você sabe o que é amor, mestre? – Brita perguntou com um sorriso. – Como eu poderia fazer meu trabalho, se meu trabalho é contra o que eu mais amo?
-Você sabia disso desde o início... Se o assassino perder o controle, é trabalho do Guardião detê-lo. Pois só o guardião tem o poder para isso. – Ukko falou como quem dá uma aula.
-Pra você é fácil, Exterminador. Nunca fez nada além disso a vida inteira! – Brita exclamou erguendo o bastão. – Mas eu...
-Brita... – Tapio chamou ficando a frente do mestre.
-Nós deviamos protegê-los, não é mesmo mestre? Você sabe Tapio! – Brita exclamou com lágrimas escorrendo pelo seu rosto. – Nosso trabalho é protegê-los, mesmo deles mesmos e ainda assim... Eles parecem tão mais fortes, tão... Sempre resolvendo tudo, sempre nos ajudando e correndo todos os perigos...
-Eu entendo... – Tapio concordou erguendo a mão como em prece. – Eu sinto a mesma coisa, Brita. Às vezes o que fazemos parece tão insignififante que parece que, qualquer coisa que pudermos fazer é mais do que uma obrigação. Mas não é bem assim e você sabe!
-Eu sei... Sem mim ele nunca teria feito tudo aquilo. – Brita falou limpando o rosto com a manga comprida de sua blusa. – Mas se ele falhou agora é porque eu falhei também, não tenho o direito de puni-lo. Estamos sempre juntos... Tudo que posso fazer é ficar ao lado dele.
-Brita!
-Deixe-a Tapio. – Ukko falou deixando a bengala cair – Se é assim, que continuem juntos após a morte.
-Vou deixá-lo orgulhoso, mestre... – Brita falou se preparando – Afinal eu sou a melhor aluna.
-Os melhores alunos, nem sempre dão os melhores mestres... – Ukko murmurou. – Tapio.
-Selar! – Tapio e Brita exclamaram juntos, formando uma redoma de luz ao redor deles e do mestre.
-Uma batalha entre guardiões é deveras fútil...
-Pilar! – Brita gritou batendo com o bastão no chão, Tapio teve que saltar para não ser atingido por um bastão de luz. – Só se ambos são iguais.
-Eu não gosto de lutas... – Tapio murmurou desenrolando as contas de seu pulso – Mas se é assim que tem que ser...
-Quieto! – Brita gritou o acertando em cheio no estomago com o bastão o fazendo voar alguns passos antes de voltar ao chão e se equilibrar – Você sempre foi o mais fraco entre todos. E se uma corrente é tão forte quando seu elo mais fraco, Ensio logo vai acabar com Louhi.
-Muito bem, Brita. – Ukko a parabenizou batendo palmas. – Mas se ele é o mais fraco, porque é você que está com problemas?
-O que?
-Eu sinto muito, Brita. – Tapio exclamou se levantando, puxou as contas. Cuspiu um pouco de sangue. – Muito mesmo...
-Quando...? – Brita perguntou sentindo a corrente de contas com selos apertar seu pescoço, tentou parti-la com seu bastão, mas foi inútil.
-Nós temos que ser fortes por aqueles que guardamos. – Tapio murmurou apertando as contas, fechou os olhos. – Eu preferia que isso não fosse necessário...
-Selo! – Brita gritou agitando o bastão, mas nada acontecia.
-Você lembra das aulas, Brita? – Ukko perguntou se aproximando lentamente. – O sacerdote, o guardião, possuí o poder dos selos de aprisionar e libertar energia. Tapio era sempre o último a fazê-lo, mas não porque não podia... Ele só não tinha porque fazê-lo ainda.
-Mas mestre! Meus selos...
-Também são energia. – Tapio murmurou a sufocando. – Você agora é apenas uma garota, Brita. Eu realmente preferia que tudo acabasse aqui, mas você prefere que não, não é mesmo?
-Me dê uma chance e eu vou partir seu pescoço, Tapio. – ela gruniu procurando mais ar.
-Mate-a logo, Tapio. – Ukko mandou.
-Ensio... – Brita murmurou antes de seu pescoço estalar.
-Temos companhia...
Quando Tapio se virou havia um pequeno batalhão de antigos humanos marchando pelos jardins, não tinha tempo para magoar-se com seus próprios atos ou sentir culpa, sequer compaixão, por Brita. Agora ela não precisava escolher entre o que queria e devia fazer, estava livre... Queria pensar assim, era melhor pensar assim do que lembrar que podia ser ele. Tapio por algum motivo sentiu mais frio que nunca aquele dia. Lahja e Louhi estavam cortando cabeças de mortos vivos, nem demônios nem humanos, apenas se arrastando a procura de comida. Aku se tornara uma enorme foice que Louhi girava emitindo uma canção funebre, Lahja usava as mãos e Ale de escudo.
-Ensio fez tudo isso?
-Quando Emma saiu eles ainda eram humanos.
Era triste ver a queda de um ser humano, não que fosse diferente de outro animal, mas o modo como parecia desajustado e deformado, os grunhidos que imploravam paz e misericórdia, os olhos sem vida e ainda assim conflitantes. Irrecuperáveis, mas pareciam ansiar voltar a serem humanos, Louhi tentanva entender aqueles chamados silenciosos, mas não conseguia. Olhava as marcas em seus pulsos, ao redor dos tornozelos e pescoço, cicatrizes tatuagens, marcas de selos. Selos que Guardiões fazem e que eles, os assassinos, podem usar, uma vez que o que foi selado descança dentro deles.
-Você está bem, Louhi? – Lahja perguntou com um sorriso, ela também tinha marcas, diferentes e em outros lugares.
-Claro...
-Você não mudou nada. Quantos são? – Lahja perguntou sorrindo arrancando a cabeça de um morto vivo.
-Sete ao todo. – Louhi respondeu decapitando os que sobraram – E você?
-Parei no décimo terceiro, acho que é suficiente e não sei se aguento mais que isso. Mas é claro que nós temos a vantagem... Ensio ser um de nós, já era de se esperar que aguentasse menos e se forçar daquele jeito.
-Não tem nada a ver com força, Lahja... – a voz trouxe lembranças.
-Ensio...
As duas se viraram para a escadaria, podiam ver os diversos simbolos em circulos espalhados pelo corpo dele, circulos são mais fortes que simbolos soltos e ele precisava de selos mais fortes. Ensio era um jovem louro de cabelos até os ombros, tinha olhos antes tão verdes, agora vermelho intenso enquanto um respingo de sangue escorria por seus lábios de presas compridas. A camisa branca aberta rasgada em vários pontos, a calça preta, as botas fazendo barulho quando ele andava. Diferente delas Ensio nunca ganhara um artefato, ele nunca precisou de um, mesmo antes de ter qualquer selo já fazia seu trabalho muito bem.
-Ensio? A sim... – ele falou ajeitando as mangas depois jogando o cabelo para trás – Quase me esqueci... Minha cabeça anda meio confusa.
-Seu idiota. – Louhi murmurou – Depois de dez selos você insistiu justo com um vampiro? Se não conhece seus próprios limites não conhece nada.
-Eu nunca fui tão cauteloso e relaxado quanto você Louhi, sempre nos fundos, dormindo conformada com o que era. Eu sempre quis ser melhor... – ele respondeu e ergueu as mãos, unhas compridas – E eu sou o melhor.
-Lahja, você sabe o que ele tem? – Louhi perguntou apertando Aku firme com as duas mãos.
-Se você me der tempo, posso descobrir...
-Quanto?
-Alguns minutos.
-Você tem dez... – Louhi falou transformando Aku em correntes.
-Não importa o que for mestra, não será um problema... – Aku comentou.
-Já querem me matar? Nem matamos a saudade ainda...
-Cala a boca, Ensio. Não deixe as coisas piores... Quarto selo pronto...
-Você acha que 4 serão o bastante? Espero que não tenha medo de onze demônios!
-O melhor? Que fanfarrão... – Aku não parava de rir.
Ensio era um monstro, era isso que acontecia se você não aguentava, tudo aquilo que lhe dava forças, se torna seu mestre e você se torna aquilo. Garras, presas, chifres, espinhos, asas, tantas possibilidades que simplesmente não somem mais, você se torna aquilo que você caça, você vira um demônio. O vampiro libertara os outros selos, quebrando Ensio se quebravam todos e agora todos respondiam apenas àquela vontade obscura que reside em todos nós. Louhi aparou os socos usando as correntes, por debaixo das mangas de sua blusa era possivel ver marcas descendo até perto do cotovelo, cicatrizes e tatuagens, marcando seu corpo.
-Idiota... – Ensio murmurou acertando um chute em cheio na barriga dela a jogando contra a parede, ergueu a mão e linhas a envolveram a amarrando e prendendo na parede. – Largue esse brinquedo... E chame seu guardião para lhe soltar, se Brita já não o tiver matado.
-Se ele fosse tão fraco assim eu já o tinha matado. – Louhi murmurou sorrindo, mas parecia mais uma careta, aquele chute doeu. – Mas não se preocupe, eu não preciso dele...
-O que diabos?
Ensio teve que pular para trás para não ser cortado junto com as linhas, asas que pareciam ser formadas de lâminas saltaram das costas de Louhi, asas pesadas e afiadas cujas pontas estavam leventemente manchadas de sangue. Da onde elas saíram um rasgo enorme na blusa e as marcas dos selos ao redor, ela odiava usar o quinto selo, era muito doloroso quando as asas saíam. Ergueu Aku como uma espada, calculava quanto tempo mais tinha que distrair aquele cara até Lahja dentro de seu escudo saber o que exatamente ele era. Tinha medo de alguma outra coisa perigosa estar lá dentro.
-Que tipo de selo doentio é esse? – Ensio perguntou levando a mão para perto do rosto no choque.
-Digamos que eu sou mais exigente que você. – Louhi comentou com um sorriso, só tinha sete selos, mas a maioria não era fácil de conseguir. – Para de brincar.
-Você que pediu... – ele falou deixando as garras aumentarem – Quando isso acabar talvez eu devore você também...
-Nos seus sonhos... – Aku exclamou por ela – Você é meu cardápio, mata logo esse "quero ser".
Quando um guardião prende um demônio, se o caçador pedir ele pode devorá-lo, não literalmente e completamente, apenas o essencial dele. O assassino devora o assassinado, deixando entrar em seu corpo sua força e qualidades, depois de engolido o guardião sela o demônio para que possa ser controlado. Lahja e Louhi tinham a vantagem, pois eram mulheres, seus corpos são melhores preparados para mudanças, já Ensio não, era mais dificil. Se um assassino não consegue digerir o que engoliu, o selo do guardião se parte e o demônio toma conta, o corpo é corrimpido e o resultado era aquele. Louhi temia chegar aquele ponto, aonde não iria aguentar e quebrar, por isso nunca passara do sétimo selo. Não queria ser ainda menos humana que aquilo.
-Louhi! – Lahja gritou assistindo a garota cheia de cortes amarrada por fios sendo sufocada, Ensio era mais rápido e mais forte e estava a batendo fazia algum tempo.
-Espere sua vez, Lahja. Eu vou pendurar ela na minha parede... – Ensio falou puxando os fios erguendo Louhi pelo pescoço, os braços esticados e as pernas presas juntas.
-Louhi! Troll, goblin, kobold, ogro, três demônios menores, diabrete, orc, lobisomen e vampiro! – Lahja falou todos os selos, todos os demônios que ele devorou e que o tornavam daquele jeito.
-Só isso? – Louhi perguntou, transformou Aku em uma faca e cortou os fios que a prendiam pela segunda vez com Aku e suas asas – Não é a toa que isso dói tão pouco.
-Quando você ativou o sexto? – Ensio perguntou notando as marcas na cintura dela, pareciam a envolver como um cinto.
-Quando você me prendeu de novo, antes que você me machucasse de verdade. Se não fosse o vampiro e o lobisomen, você não seria nada Ensio... Você só é rápido e resistente, mas com esse tipo de força não vai chegar a lugar nenhum.
-Um vampiro e um lobisomen, me parece um jantar balanceado.
-Eu vou te mostrar o nada!
-Barreira! – Lahja gritou, fazendo Ensio dar de cara com um enorme triângulo de luz que o jogou longe.
-Que tal uma cruz para o vampiro? Elas não funcionam de verdade, mas parece apropriado... – Aku se tornou uma lança com uma cruz na base e uma ponta cumprida afiada de maneira que parecia uma estaca. – Fazia tempo que não usava o sexto.
-Sua...
-Prisão! – Lahja gritou o mantendo preso numa caixa de luz. – Louhi eu não posso soltar ele...
-Não precisa... Aku...
-É só colocar força no braço, eu atravesso sem problemas... – Aku falou, aparentemente muito bem humorado com tudo que estava acontecendo. – Mestra... Posso beber todo o sangue dele?
-Descanse em paz, Ensio. Que seus demônios sejam devorados no inferno enternamente.
-Melhores tempos... – Lahja desejou desviando os olhos.
A lança arremessada por Louhi atravessou a parede de luz até os gritos de Ensio que esbravejava e batia contra sua prisão, atravessou o condenado tão facilmente quanto atravessaria espuma, a corrente enroscada na cruz levando até Louhi que parecia sentir o frio aumentar dentro de si como a incerteza. Não era ela que devia ter feito aquilo, era Brita. Quando um selo quebra daquela forma, quando o assassino se perde para os demônios, o guardião é quem deve trancá-lo e matá-lo. Quando puxou a lança o cadaver estava seco e gélido, lembrava pedra, parecia uma estátua. Não conseguiu brigar com Aku, afinal ela não respondera, mas sentia medo e pena daquele que um dia fora o melhor aluno dos antigos mestres.
-Louhi! Lahja! – era a voz de Tapio que veio correndo – Estão bem? Nos atrasamos com um bando de mortos vivos...
-Estamos, Louhi acabou com ele.
-A única criatura temerária dentro dele era o vampiro e um lobisomen, todos morriam sem um coração batendo. – Louhi murmurou levantando a saia e guardando Aku. – Ele sabia de seus limites, por isso engolia muitos fracos ao invés de poucos fortes, mas foram tantos que ao ambicionar algo maior o corpo dele não aguentou.
-Fazia tempo que não a via com asas, Louhi. – Ukko falou se aproximando.
-Mestre, você está bem? – Lahja perguntou notando as roupas rasgadas.
-O Mestre continua em forma, nem um arranhão, exceto em suas roupas. – Tapio comunicou. – Louhi...
-Eu vou pra casa... – ela falou dando as costas, saiu andando conforme as marcas se apagavam e as asas sumiam dentro de suas costas.
-Você vai se acostumar, Louhi. – ela já nem sabia se era Aku que falava ou sua própria mente.

Um comentário:

Ceci disse...

ramente,tds estão ótimos mas esse na minha opinião,foi o melhor capítulo de batalha..a melhor batalha,a mais envolvente e emocionante,que envolvia mais do ferimentos e ataques...tinha tda uma história por trás,a questão de 'matar ex colegas de sala'...enfim,tdo que vc mostrou no 8.

E que descrição do Ensio hein?o.O" Caraca vi o próprio Taylor Hanson aki na frente,só que numa versão mais monstruosamente linda xD
Lembrei tbm de um personagem do senhor dos anéis..não sei se era um tal de Legolas...(ta,era sim,acabei de ver no google =P).Pois então,simpatizei com ele e ao mesmo tempo senti raiva...pra variar né?Seus personagens são beeem recheados dessa junção de sentimentos que são passados facilmente aos leitores.

Louhi sempre durona...agora com a campanhia de outro 'serzinho' que as vezes chega a ser cômico xD

Bom,agora vou almoçar e dps nos falamos (ta quietinha la!xD)

Bjãoo e bora pro 9?
=D