quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Liberdade

11
-Louhi!
O grito de Tapio nem foi ouvido enquanto ele vinha sangue jorrar depois do último esforço de Esteri. O gelo começou a se partir e desmoronar, ele sentiu que tudo que ele conhecia caía junto, como um castelo de cartas diante do sopro da respiração de quem assiste. Por que os olhos dela estavam tão distantes do olhar que ele conhecia? Assistiu Louhi pairar no céu, com asas que não batiam, flutuando com os olhos brilhantes fixos no gelo e na dama que desmoronava junto com ele, era como assistir sua própria humanidade desmoronar. Quando seus pés tocaram a pilha de escombros congelados, ela já não sentia frio.
-Me deixa ver seu ferimento... – Tapio pediu se aproximando mas foi parado pela ponta afiada da asa dela que parou em seu pescoço.
-Não precisa. – quando a asas de metal se moveu ele viu que o ferimento já estava fechado.
-Você está bem? – Tapio perguntou deixando as mãos caírem ao lado do corpo, estava perdido e não sabia o que fazer.
-Que tipo de pergunta é essa, Guardião? – a voz de Eemeli sôou atrás deles, Louhi nem se moveu. – Esteri... Fique em paz, minha menina. E quanto a você Tapio, que tal fazer seu trabalho?
-Mestre Ukko...
-Morto. – Louhi e Eemeli falaram ao mesmo tempo.
Tapio sentiu um desconforto crescente dentro de si, Ukko que matara centenas de demônios, Ukko que mesmo tão velho ainda era mais forte que vários juntos, tinha sido morto. Eemeli tinha trapos e espinhos de sombras do lugar de braços, suas mãos era um espetáculo grotesco e crescente que se alastrava como câncer ao seu redor. Sentia naúseas, o único ferimento no antigo mestre era um hematoma leve em sua face esquerda, Tapio estava acostumado a ver monstros e estar cercados por eles, mas naquele instante entre Louhi e Eemeli, foi a primeira vez que ele teve medo.
-Então, Tapio, você vai matar Louhi ou não?
-Por que eu faria isso? – Tapio perguntou erguendo os punhos.
-Está mais do que claro que ela já não têm nada de humano, se é que um dia teve. É trabalho do Guardião, matá-la... Faça seu trabalho. – Eemeli sugeriu sorrindo. – Não concorda, Louhi?
-Claro... – ela murmurou virando apenas o rosto, deu um sorriso pontiagudo – Assim que eu matar você...
-Louhi...
-Como pretende fazer isso, gata de rua? – ele perguntou dando um passo à frente.
-Ainda não decidi.
-CHEGA! – Tapio gritou criando uma jaula ao redor de Eemeli – Parem de me ignorar e brincar comigo!
-Talvez se você não fosse tão fraco, Guardião. – Eemeli falou atravessando a jaula como um fantasma. – Saía do caminho.
Um tapa, um único tapa foi suficiente para Tapio receber cortes por todo corpo e cair metros mais tarde, só preservava uma parte de sua consciência quando tocou o chão, sentindo a dor se alastrar. O que quer que fosse que estava no braço de Eemeli agora estava nele também, teve que selar a si próprio, mas por mais que a marca luminosa tivesse se tornado parte do seu corpo, ainda doía. Lembrou do primeiro selo de Louhi, o troll, mesmo depois de selado ela se debatia e socava as coisas, como se tivesse algo errado. Imaginava que devia ser daquele jeito, doloroso.
-Eu nunca entendi como o maior assasino de demônios de todos os tempos a deixou sob suas asas. O que Ukko viu em você? – Eemeli perguntou analisando as marcas no corpo de Louhi, suas asas de metal, a manopla a correntada ao seu braço. – Vejo que ele deu Aku à você...
-Controle... – Louhi falou sorrindo olhando para o chão.
-O que?
-Ukko disse que era a única coisa que eu tinha que aprender. – ela falou erguendo o rosto, os dentes pontiagudos à mostra. – Aparentemente sou melhor nisso que você.
-Do que está falando?
-Em breve... – a voz dela parecia a de Aku – Você vai perceber em breve, mestre.
Não que a troca de socos e saltos para desviar de chutes não fosse interessante, mas parecia mais um cumprimento banal até que finalmente Eemeli lançou suas sombras e espinhos para espremer Louhi. Não era o primeiro a tentar prendê-la e matá-la, mas não seria o último. Não foi dificil sentir no meio das sombras e espinhos presos a sua pele a rasgando junto com sua roupa, as correntes tilintando enquanto deslizavam. A mínima presença de Aku a fazia arrepiar, podia sentir qualquer coisa vinda dele mesmo de longe, ficou parada, assistindo Eemeli a cobrir de sombras e espinhos.
-Só isso? – Eemeli perguntou – O velho Ukko deu mais trabalho...
-A julgar pelos seus movimentos, já deve ter chego ao pescoço... – ela murmurou enquanto olhava o céu entre as árvores.
-O que?
-Você está morto mesmo, mestre, só não sabe ainda. – ela falou muito tranquilamente, parecia didática. – Por isso eu sou melhor que você, até Ensio era... Mesmo depois que o selo se partiu ele conservou o corpo e uma parte das faculdades mentais.
-Acha que eu perdi minha mente? – Eemeli perguntou dando risada. – Muito engraçado.
-Ainda não... Mas seus braços, pernas e torso já foram devorados. Não vai demorar pra essa coisa subir pra sua cabeça. – ela afirmou séria – E então você, não vai mais existir.
-Eu vou mudar, só isso... – ele afirmou, ouviu o tilintar e acabou levando um susto, notou que a corrente havia se enroscado em seu braço. – Aku?
-Se fosse realmente você teria sentindo a corrente se enroscando... – Louhi comentou o vendo preso como ela dos pés até o pescoço. – Aku é bem gelado...
-Isso não vai me machucar. Você por outro lado... – ele comentou sorrindo.
-É, essa coisa dói... Espinhos e sombras, parece uma erva daninha dos infernos. Mestre, por que você não ajudou Esteri? – Louhi perguntou o encarando.
-Você me viu?
-Antes dela morrer, antes de me golpear, eu vi você entre as árvores atrás dela. Por que não a ajudou? – Louhi perguntou novamente.
-Ela fez a parte dela...
-Obrigada mestre. – aquilo era um sorriso?
-Você enlouqueceu? – Eemeli perguntou vendo o rosto dela se contorcer, em breve poderia parti-la em mil pedaços, ela não ia aguentar muito mais.
-Muito obrigada. Eu precisava saber que era mais humana que alguém... – Louhi murmurou.
-Agora? – Aku perguntou.
-Tudo que resta de você é a cabeça, mestre. O resto é só sombras e capim... – Louhi afirmou com um brilho estranho nos olhos. – Agora, nem isso...
As correntes se estreitaram puxando Eemeli para perto, assim que ele se aproximou as asas que Louhi se fecharam cortando o pescoço dele, a cabeça rolou por algum tempo, o corpo apenas se dissolveu, deixando a mostra uma Louhi cheia de cortes profundos e vestindo trapos. Aku se encolheu de volta para o braço de sua mestra, na forma de uma pistola. O braço doía, mas conseguiu mirar um último tiro para estourar a cabeça de Eemeli antes que ela voltasse a vida de algum jeito, sentiu os dedos finos e gélidos em seu rosto.
-Você devia tê-lo matado logo, mestra...
-Não.
-Não?
-Se ele não me machucasse, o Tapio não ia conseguir... – ela tossiu sangue.
-Não me diga que está pensando em deixar ele a matar?
-Não se preocupe, eu não vou levar você pro inferno comigo. – Louhi falou se levantando com dificuldade.
-Estou certo disso. – Aku murmurou, será que estava sorrindo? – Mas ainda assim a prefiro viva...
-Eu não sou seu tipo lembra? Você gosta de humanas seu parasita... – Louhi fez uma careta ao sentir a corrente se enroscar em seu braço e apertá-lo – Para com isso.
-É tão repulsiva assim a idéia de não ser humana? – Aku perguntou, ela podia vê-lo na sua frente, a empurrando contra uma árvore, os olhos vermelhos a encarando. – Você despreza sua espécie tanto assim?
-Por que você se importa? Eventualmente vai achar outra pessoa pra sugar...
-Vou... É verdade. – ele falou ajeitando os cabelos dela atrás da orelha, seus olhos deslizaram pelas pontas das asas dela, seus dedos correram por seu braço até chegar na marca da cintura. – Mas até lá, você é minha mestra...
-Um bom mascote... – ela murmurou fechando os olhos.
-Exato... Abra a boca. – ele mandou.
Ela sabia o que era pelo cheiro, mas se recusou a confirmar com os olhos o que escorria por seus lábios, sentiu o corpo leve deslizando até o chão. Podia sentir Aku a envolvendo, correntes enroscadas juntando os rasgos de suas roupas, a saia estava quase inteira, apenas um corte na coxa direita que era até útil. Quando abriu os olhos de novo tudo que podia enxergar era Tapio encolhido no chão com um selo no peito, via marcas de cortes horizontais atravessando o corpo dele. Ficou observando o jovem respirar com dificuldade por algum tempo, lembrava do garoto sorridente que sempre tentanva se aproximar.
-Não se preocupe, a dor vai passar... – ela falou sorrindo enquanto se aproximava agachada.
-Louhi... – ele parecia não enxegar direito, apertava os olhos.
-Não é trabalho de um sacerdote engolir um demônio. – aquele não era o rosto de Louhi, nem suas mãos, nem sua voz, não era nada do que ele lembrava de toda sua vida. Eemeli estava certo, já não havia nenhum traço de humanidade nela.
-Não...
-Último... – ela prometeu baixando o rosto até a altura do selo.
Tapio sentiu os lábios dela como água fria, ou então metal contra sua pele, então sentiu algo o envolver e empurrar. Sabia o que ela estava fazendo, mas não conseguia sequer mover-se para longe dela, o selo aos poucos se apagou de seu peito, não sabia como, mas foi o que aconteceu, finalmente ela se levantou e ele sabia que aquela coisa estava dentro dela agora, em algum lugar daquele corpo que um dia fora de Louhi e agora era daquela criatura, estava o que corrompeu mestre Eemeli. Ergueu a mão na direção dela como quem tenciona criar um selo.
-Não... – ela murmurou com um sorriso.
-Mas...
-Seu trabalho não é me ajudar, Guardião. – ela sorriu, ele sabia que aquilo era um sorriso, mesmo quando as correntes se alastraram por todo corpo dela, ele sabia que ela estava sorrindo, as correntes brilhavam com todos os selos que ele conhecia, outros que nunca vira.
-Aku?
-Eu falei que ela não precisava de você... – a voz saía da corrente.
As asas de metal ficaram negras, sombras se espalhavam e começavam a dissolvê-las a fazendo cair aos pedaços, pedaços que se dissolviam na luz dos selos. Depois caminharam pelas costas, engolindo as marcas da cintura, escorrendo pelas pernas, subindo pelos braços até envolver o pescoço. Sombras engoliam e depois era engolida pela luz, assistiu-a chegar ao pescoço, os olhos brilharam cinzas, um sorriso afiado que ele conhecia bem. Sua voz quase não saiu a tempo daqueles olhos o reconhecerem.
-Louhi, não... – as sombras envolveram todo rosto dela, depois se iluminaram, as correntes caíram com um barulho que um condenado devia fazer ao morrer, os olhos dela se fecharam. – Não! Louhi...
Mas ela não respondeu, nem quando ele aparou sua queda para o chão. Apesar de não haver mais nenhum ferimento, nenhuma marca, nenhuma corrente apertando seu corpo, ela estava fria e pálida, imóvel. Era o mesmo rosto exausto de quando terminava um trabalho e se jogava na cama, como se não houvesse mais nada pra fazer. Ele não podia sentir seu coração batendo, nem a respiração parecia sair de seus lábios semi abertos. Ele realmente não podia matar ela, mas aparentemente ele dera o modo perfeito dela mesma se matar. Odiou a si mesmo, então odiou Aku.
-Você devia cuidar dela... Não era pra isso acontecer... Mesmo que...
-Mesmo que ela fosse um monstro? Tocante. – ele levantou o rosto a tempo de ver Aku, ainda tinha as correntes, mas nunca pareceu tão livre. – Era só uma questão de tempo até eu quebrar o selo...
-Então é isso? Você só protege ela até estar livre seu...
-Não diga mais nada. – Aku falou se aproximando. – Você é que a enxergou como um monstro, sequer a reconheceu como a garota que você tanto adorava quando ela chegou. Sabe qual foi a última coisa que ela viu nos seus olhos? Eu posso mostrar se quiser... Foi isso... – Aku ergueu um pequeno espelho.
-É minha culpa... – Tapio admitiu, olhando no espelho notou a expressão que tinha quando olhava para Aku, olhos frios e odiosos num rosto que sempre fora gentil. – O que aconteceu?
-Oito demônios, uma refeição bem balanceada se me perguntar. Não é meu prato favorito, mas era o que eu precisava pra quebrar o selo... – Aku falou fazendo carinho no rosto de Louhi.
-Você a matou pra se soltar...
-Não. – Aku negou.
-Ela tinha sete selos, mais ela são oito... Oito monstros. – Tapio contou.
-É, mas um não estava selado... O que ela arrancou de você... – Aku apontou para onde antes havia um selo em Tapio – Você devia agradecer, ela sabia o quanto você odeia monstros então o impediu de ser um. E ainda por cima fez seu trabalho por você... Acabou com os monstros.
-Menos um... – Tapio falou esmurrando, mas Aku segurou sua mão.
-Você está vendo, mas não está entendendo a situação. Seu mestre não ensinou nada a você, guardião? – Aku perguntou empurrando o braço de Tapio de volta. – Você deve compreender a situação, não simplesmente olhá-la...
Aku puxou Louhi dos braços de Tapio, era como uma boneca de porcelana, parecia tão frágil, apesar de não haver mais dano a se causar. Tapio no começo só sentiu raiva, mas aos poucos notou algo que não notara antes, todos os selos sumiram, se Aku engolira os sete demônios e o que estava em Tapio e fora arrancado, mas não Louhi. Então ela... Viu o movimento leve da respiração, por algum motivo o irritava Aku parecer tão delicado e gentil ao segurá-la, contemplando o rosto pálido.
-Nunca tive uma mestra tão teimosa... – ele falou mordendo a própria boca. – Nunca...
-Não pense nisso. – Tapio mandou se levantando num salto.
-A quer morta de verdade, então? – Aku perguntou de maneira aparentemente enraivecida, ou estaria se divertindo com a situação. – A prefere humana morta, do que viva e... Outra coisa?
-Eu a quero como era e não como você é... – Tapio respondeu.
-Não se preocupe com isso, ela já é um monstro, não pode ser dois ao mesmo tempo...
Mas não era só isso, Tapio sentiu a raiva lhe subir a cabeça quando viu Aku deixar o sangue de seus lábios escorrer para dentro dos dela, aos poucos a cor voltava a sua face, como um passe de mágica. Lentamente ele soltou as pernas dela que agora sustentavam a si mesma, era como assistir uma flor erguer-se para o sol e abrir-se, mas não havia flor nem sol. Apenas Louhi abrindo os olhos cinzas lentamente na escuridão ao mesmo tempo que Aku sorria e lambia os lábios.
-Eu adoro quando você está frágil, quase parece...
-Outra coisa... – Louhi murmurou sentindo Aku lhe dar um beijo rápido no rosto, o frio passou, mas ainda se sentia fora de si.
-Não vá se apaixonar por mim. – Aku falou sorrindo.
-Igualmente. Cala a boca e saí daqui antes que eu mude de idéia sobre te deixar livre.
-Como quiser, mestra. – Aku falou sorrindo se afastando sem deixar de olhá-la sequer um segundo – Obrigado pelo jantar...

Um comentário:

Ceci disse...

Ta bom dona Mo.Vc conseguiu =X
Eu q imaginava que nao usaria os '........' aki hj...
...
...
...
me enganei.

Mewww que capítulo lindo/triste!
Mestre Ukko morto,Louhi quase morta (ainda bem que nao a matou *-*),Tapio passando por momentos complicados...sentimentos sendo colocados a prova.Pouts,acertou em cheio.

Maaas e agora sem o Mestre Ukko?Tapio poderia ficar no lugar dele ne?sei la..nao vou viajar mais uma vez aqui..ainda to 'me recuperando' dos ultimos fatos rsrs

A cena com Aku e Louhi juntos tbm foi profunda...sei la,tem coisas q nao tem como explicar por aqui,é complicadinho,so sentindo ao ler msm =)

Pena qo proximo é o ultimo ne?=/
mas vamos ver o q ele nos reserva!
bjaoo mo
;*
parabens!