domingo, 30 de novembro de 2008

Como eu desejar

1.
-Esses irmãos sempre foram um problema. – a voz era de um garotinho, um garotinho que não aparentava mais que dez anos, os cabelos castanhos e olhos azuis observavam curiosamente os arredores. – Faz muito tempo desde a última vez que tive que vir até aqui.
-Chefe... – Soner começou a falar, mas o menino ergueu a mão o fazendo calar.
-Por favor, Soner. Você é um dos melhores que nós temos, me chame de Cian.
-Agradeço os elogios, mestre Cian. Mas se me permite perguntar, o que vai acontecer com Beg e Will?
-Vamos esperar mais um pouco, ainda há muito que analisar. Mas quando a hora chegar eles serão punidos por seus erros é claro. – Soner engoliu em seco, o garoto falava de maneira inocente, mas sabia que falava sério. – Eu sou o mais velho entre os anjos da morte, que chegam aos moribundos e lhes perguntam seus desejos e é por minhas mãos que eles serão punidos. Assim comandam os chefes.
-Você é mais que isso, é um deles, Cian. – Soner murmurou, não sabia se tinha respeito ou medo pelo garoto.
-Você é muito observador, Soner. E um servidor leal, talvez o último. Já não obedecem regras simples e ordens como antigamente. – Cian comentou torcendo os lábios.
-Por quem você vai começar?
-Beg. - Cian anunciou, Soner estremeceu. – Sei que você tem sentimentos por ela, Soner, não tente escondê-los, mas espero que mais uma vez mantenha seu trabalho a frente de sentimentos pessoais.
-Claro, Cian. Por que por ela? Will parece mais dificil.
-Sim, no entanto é muito mais grave o fato dela ter a mania de deixar seus clientes saberem que vão morrer. A noticia da morte pode afetar sériamente a mente humana. – Cian se virou com quem protesta – É muito cruel falar tais coisas para uma pessoa! Nunca se sabe o que pode acontecer...
-É, verdade.
Os dois calaram, Cian foi até a varanda do apartamento no arranha céu, de lá podia enxergar tudo que acontecia lá embaixo, todas aquelas pequenas vidas circulando como se nada fosse acontecer. Abençoados os ignorantes. Uma ruiva num short preto e de top vermelho se aproximou com uma taça de vinho na mão, a girava fazendo o liquido rodopiar, Soner a observava de canto de olhos, nunca a tinha visto antes, mas já ouvira falar da mulher de cabelos vermelhos. Era a mais próxima dos chefes entre eles, conhecida por colocar os inadequados de volta em seus devidos lugares, ou sumir com eles.
-Teivel, fique de olho por mim no trabalho de Beg. Eu vou vigiar Will. – Cian mandou, ela simplesmente engoliu todo o vinho num gole só. Soner sabia o que queria dizer Teivel, era um nome masculino e queria dizer diabo. – Soner...
-Sim, mestre Cian?
-Quando eu mandar, vá visitar sua amada Beg.
-Sim...
Não havia espaço para sentir nada no mundo deles, ficavam entre a vida e a morte, concediam desejos, mas não deviam pensar em vontades próprias, era assim que Soner via as coisas. Mas Beg, nunca pode evitar sentir algo pela loira lasciva que lhe beijava os sentidos, mas aquilo não podia interferir. Assistiu Teivel e Cian deixarem o apartamento e ficou sentado sozinho no escuro, tentava organizar seus pensamentos, falara como Munya fora um fracasso e todos agiram como se já soubessem, como parte dos planos.
-Will! – Munya acenou correndo até ele com uma sacola nos braços, ele devia estar voltando do trabalho.
-O que você está fazendo, catando lixo na rua? – ele perguntou olhando para a sacola.
-Fazendo compras! – ela gritou em resposta. – Estava trabalhando?
-Claro que não, dormindo no parque. – ele respondeu sarcástico.
-Vamos voltar pra casa juntos? – Munya perguntou sorrindo.
-Hoje é dia da Beg te levar pra passear, mascote... – ele falou dando pequenos tapas na cabeça dela como se fosse um cachorrinho.
-Estupidamente rude! – ela falou rangendo os dentes, mas andou do lado dele mesmo assim. -Will, qual seu desejo?
-Eu não estou morrendo.
-Eu sei, mas... Você não deseja nada? – ela insistiu enquanto caminhava.
-Meu trabalho é conceder desejos e não desejá-los. – Will falou olhando para uma mulher que passava com uma criança no colo.
-Mas e se não fosse? E se você fosse uma pessoa normal?
-Por que está insistindo nisso? – ele a encarou e ela corou.
-Eu... eu não sei direito, mas eu sinto que estar com você, seu jeito sádico e estúpido é tudo muito familiar. Soner me falou que nós um dia tivemos um último desejo e como eu me sinto tão... – quando ela levantou a cabeça ele já estava lá na frente. – EI! EU ESTAVA FALANDO COM VOCÊ!
-Vem logo, cachorrinho! – ele chamou.
-Para de me chamar assim! – ela falou enquanto corria na direção dele. – Eu ia te fazer uma pergunta!
-Faça...
De repente ela perdeu a vontade de perguntar, ou talvez fosse birra por ele ser tão mal educado, as horas foram passando e nada de interrogações saindo de sua boca. A noite chegou, Beg chegou em casa e nada, foi na ponta dos pés até a porta do quarto dele, quando ia dar meia volta ela se abriu e ele a puxou pelo braço. Fácil como arrastar uma boneca de pano ela foi carregada, com a boca tampada para não fazer escandalos como sempre.
-O que você quer a essa hora? – ele perguntou com o rosto meio sonolento.
-Nada... – mentiu. – Ei o que você está fazendo? – ela perguntou o vendo arrancar sua blusa.
-Ta quente demais pra você usar isso. – ele falou a arremessando longe, não soltava a garota. – O que você quer aqui a essa hora?
-Já falei, nada. Me solta!
-Mentirosa... – ela conhecia aquele tom de voz e aquele sorriso.
-Will... Para... – ela falava tentando se soltar das mãos dele. – Ta bom, eu falo! Para!
-Boa menina. – ele falou soltando ela que abraçou os próprios braços, era muito divertido ver ela envergonhada.
-Will... Foi você que realizou meu último desejo? – ela perguntou de cabeça baixa.
-Por que está perguntando isso? – ele a ficou encarando, a puxou pela cintura.
-O que você...
-Quieta... – ele mandou dando um beijo na barriga dela, depois a mordeu.
-Will... Para com isso e me responde! – ela gritou.
-Eu estou respondendo. – ele sorriu. – Você sabia que aleijado, é o significado do nome Claudia?
-Aleijado? O que isso tem a ver comigo? – ela perguntou se encolhendo.
-Espero que você seja resistente, se não não vai andar por um tempo.
-ME SOLTA SEU SÁDICO!
-Você que veio me assediar no meio da noite, agora fica quieta...

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