sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Tava demorando...

4.
O que estava acontecendo? Tudo que lhe diziam, tudo que lhe explicavam, ela guardava em sua memória elefantica, lembrava tudo que Soner lhe ensinou ou explicou, mas simplesmente não conseguia fazer nada além de lembrar. Não via quanto tempo faltava, não conseguia dizer se alguém era bom ou ruim em menos de alguns dias, se sentia uma falha no sistema. Por que estava ali? Será que aquilo tudo fazia algum sentido? Não parecia fazer pelo menos, acabou suspirando.
-Munya, você está bem? – ele era sempre tão gentil e preocupado, quanto tempo fazia? Alguns dias, talvez uma semana e pouco.
-Estou, Mac, obrigada. – ela falou sorrindo de maneira distraida.
-Munya, vem comigo? Eu quero te mostrar uma coisa... – ele falou a puxando pela ponta dos dedos, mas ela parou ao ouvir uma voz vinda de trás dele.
-Aí está você anjinho com deficit mental... – era Will, desagradavel e inoportuno como sempre, imediatamente o nivel de irritação dela subiu, combinado com a frustração.
-O que você quer?
-Amigo seu...? – Mac perguntou olhando de um pro outro.
-Ela mora comigo, é meu saco de pancadas verbal particular. – Will respondeu apontando para ela.
-Isso é...
-Ignora ele! – Munya falou puxando Mac pega mão, a presença de Will só podia piorar as coisas. Mas não conseguiu fugir, o agradabilissimo a segurou pelo braço. – O que você quer?
-Pergunta errada. – Will falou, Mac parecia perdido e desconcertado.
-Eu não tenho tempo para suas brincadeiras. – Munya respondeu rangendo os dentes.
-Não é brincadeira, eu demorei para te encontrar. Vem comigo.
-Eu estou ocupada...
-Tudo bem. – era Mac, coçando a cabeça meio sem jeito – Nos vemos depois?
-Mac...
-Se cuida... – o ruivo falou se afastando, parecia deslocado naquela conversa.
Ela estendeu a mão tentando segurar o nada enquanto o via se afastar, baixou o rosto triste por ele por um momento, mas qualquer sentimento saudosista que tivesse desapareceu logo em seguida. Will começou a rir, e a risada se tornou uma gargalhada, de forma que ecoava, aquilo a irritou profundamente a fazendo querer pular no pescoço dele e lhe torcer até os ossos estalarem!
-Não tem graça! – Ela gritou.
-Não precisa ficar tão brava, só porque ele é covarde.
-Você nem conhece ele! – Munya gritou se virando, já ia correr atrás de Mac quando ele a segurou pelos cotovelos, a respiração dele em sua nuca a fez arrepiar.
-Não vá atrás dele... – por que de repende parecia um pedido?
-Por que, não?
-Ele não é o que você pensa, além do mais faz dias e você nem sabe o quanto vai demorar para ele morrer, você não é nenhum pouco boa nisso. – Agora parecia mais com ele, a chamando de idiota daquele jeito.
-Nem por isso vou desistir! – ela falou se soltando e saiu correndo.
Ouviu um resmungo: criança teimosa. Mas não se importou, como ele podia falar tão rápido que Mac não era o que ela pensava, até tinha esquecido do que Soner lhe contara sobre Will, na raiva que estava só sabia correr, acabou alcançando o rapaz algumas quadras depois, ele pegava uma lata de refrigerante de uma das máquinas de venda, parecia distraido com algum tipo de pensamento, olhava para o nada enquanto abria o lacre. Chegou com passos lentos até ele, não sabia bem o que falar.
-O que está fazendo aqui? – ele perguntou olhando por cima do gole.
-Você não queria me mostrar algo? – ela perguntou chutando uma pedra invisivel no chão.
-Claro. Que bom que você veio... – ele falou segurando a mão dela, podia sentir o toque dele. Tão leve, não eram as mãos rudes e pesadas do Will, lembrou de Beg, tentou não sentir nada, mas não conseguia. – Mas e seu companheiro...?
-Will? Esquece ele, é um idiota...
Ela ficava encarando Mac por horas seguidas, procurando algo nele que denunciasse o fim de sua vida, mas tudo que via era um rapaz ruivo com rosto sardento e sorriso desconcertado. Nem prestou atenção que caminho estavam fazendo até entrar numa viela escura, não fez perguntas, continuou procurando o dia da morte dele em qualquer pedaço do que ele era, sem sucesso. Ele abriu a porta de uma casa escura e escondida, era um lugar isolado e decadente, imaginava como ele podia viver lá, devia ser solitário.
-Essa é minha casa. – ele falou fazendo sinal para que ela entrasse.
-É sempre tão escuro assim aqui? – Munya perguntou, não conseguia enxergar direito.
-Já vou acender as luzes... – ele falou fechando a porta.
Ela demorou para entender o cenário, não porque continuasse escuro, mas por sentir seus dois braços puxados para o meio das costas, era uma sala comum e desleixada, revistas espalhadas com mulheres na capa, garrafas vazias de bebida, um sofá velho e um radio jogado no canto. Ela demorou para entender o que ele estava fazendo até sentir os dentes dele mordiscando seu pescoço, os braços presos pelas mãos dele.
-Mac, o que você...Ahhh... – ela não conseguiu completar a frase, ele puxou a cabeça dela pra trás a arrastando até o rádio. – Para com isso, Mac!
-Parar o que? – ele ligou o som alto. A música cobrindo as vozes, não que fosse preciso naquele final de mundo – Achei que você gostasse de mim...
-Eu gosto, mas... – ela mordeu os lábios ao sentir ele puxar de novo sua cabeça, ele encaixou os dentes entre seu ombro e pescoço. – Mac!
-Mas o que...? Como amigo? Não assim? Não como homem? – ele a virou e empurrou contra a parede, ela nunca tinha visto antes, mas ele tinha olhos muito tenebrosos, escondidos pelo sorriso desconcertado, aquelas perguntas e aquele olhar, era como se nem fosse para ela.
-Mac...
-Eu não quero ouvir. – ele falou tampando a boca dela com uma das mãos enquanto a outra segurava seus braços, tão pequena, era tão facil de manter parada. – Ai! – ela o chutou já que os braços estavam presos. – Para com isso!
-Humhnumhhh! – só saiam sons de sua boca, mas não não ficava quieta.
-Chega! – ele gritou a batendo contra a parede, sentiu a dor da pancada, não era como Beg, não conseguia não sentir. – Fica quieta...
Sentia a dor, mas não era só isso, era medo e respulsa, além da óbvia raiva de ter acabado naquela situação. Will tinha avisado, falou para ela não ir, falou que ele não era o que ela pensava, mas ela não ouviu, achou que era só mais uma das irritâncias dele. Ouvia o barulho de tecido rasgando, mas já não enxergava direito pelos olhos encharcados, sentia nauseas alimentadas por toques e saliva, não adiantava espernear, ele era mais forte. Parecia ter oito braços a segurando, enquanto os outros lhe expunham a pele, puxavam as tranças, apertavam o corpo. A nausea crescente a fazia querer desmaiar, sombras de fotografias na parede, quem era aquela mulher cuja foto fora rasgada ao meio?
-Will... – ela murmurou chorosa com o rosto virado pro teto, ele estava com o rosto mais abaixo, na altura de seu coração como se fosse abrir seu peito e devorar seu interior.
-É o nome daquele cara...? – Mac perguntou apertando os pulsos dela presos em suas costas, mas ela não respondeu, os lábios tremiam, queria não sentir nada. Mas ele lhe mordia deixando marcas entre o vermelho e o prpura – Você está me deixando muito triste, assim, sabia? Eu não gosto de ficar triste...
-Quem gosta?
-Diabos... – Mac virou o pescoço tão rápido que parecia que ia quebrar, a voz de Will vinha da porta, quando ele tinha entrado? – O que você está fazendo aqui?
-Pra quem não gosta de tristeza você não parece de importar com uma criança chorando.
-Não estou vendo nenhuma criança aqui e ela veio porque quis, vai embora... – Mac mandou apertando ainda mais o corpo dela, Munya fechou os olhos, as lágrimas caíram.
-Eu já falei, ela é meu saco de pancadas particular. Um garotinho mimado e que não sabe tratar uma mulher como você, não vai estragar meu brinquedo... – Mac encolheu, será que só agora ele notara o sorriso demôniaco de Will? Ou só agora que o homem era três dele? De qualquer forma, parecia ter medo. – Qual seu desejo?
-O que você vai fazer? – Mac perguntou apertando Munya contra seu peito, como um cão que protege um osso.
-O que você deseja mais que tudo? – Will perguntou se agachando, encarava o rapaz, muleque idiota, ambos ignoravam as lágrimas do corpo semi dormente de Munya, ela sequer reagir, parecia petrificada, as marcas, as lágrimas, tudo paralisado com olhos abertos que não piscavam.
-... – Foi quase ininteligivel o que Mac murmurou de cabeça baixa, mas Will pareceu entender, afinal estendeu a mão para ele.
-Eu troco por ela.
-Mas...
-Pegar ou largar...

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