terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Perda de tempo

Vamos fazer um jogo, só pra passar o tempo. Me diga o que eu estou pensando, eu também farei o mesmo, depois a gente inventa onde tudo vai parar, o que vai acontecer e que tipo de pessoa algum dia nós vamos virar.
-Você está pensando em mim...
-Muito vago, tenta de novo.
-Você está pensando que eu devia tomar mais cuidado.
-Talvez eu é que deva me cuidar...
-O que eu estou pensando?
É uma pergunta dificil, porque eu não consigo separar o que eu acho que você pensa, do que eu queria que você pensasse. Aí o silêncio reina, enquanto eu finjo que penso numa resposta, contando os pingos de chuva na janela, sabendo que mais cedo ela vai parar e quando a chuva parar... Você vai embora, porque é essa chuva que o prende comigo.
-Está pensando em música.
-Muito vago, tenta de novo...
-Está pensando que quer fazer uma música, nova e melhor do que já conhece... Uma música que não fale de amor, nem da chuva, nem do passado...
-Que fale de que?
-Vai ver fale de brincadeiras bobas...
-Talvez fale de passa tempos...
-Talvez fale da falta....
-Falta?
-De chuva, de amor e de passado... Uma música bem seca, como um velho rabugento.
E aí vem o silêncio de novo, e as dúvidas se aquilo daria certo. Sem nem saber se aquilo era a música ou a brincadeira boba. A água arrasta o tempo, assim como pessoas se arrastam na enchente, sendo levadas, puxadas, empurradas. Os primeiros raios teimosos de sol começam a furar as nuvens, a luz machuca os olhos, é mais fácil sonhar no escuro.
-No que está pensando?
-Em você...
-O que tem eu?
-Nada não. Me passa o papel e pega seu violão....
-Vamos compor?
-Não dessa vez...
Não dessa vez, o papel é pra tingir de tinta, já que ela corre mais fácil que lágrimas. E o violão é pra quebrar o silêncio que faz mergulhar nas especulações, que faz olhar para os pingos da chuva e os raios do sol. Mais tarde irá dormir com o violão no colo e a cabeça encostada no sofá, a chuva vai ter passado e até o sol vai sumir dando lugar para o escuro, é mais fácil sonhar no escuro. Encima da mesa fica minha despedida versada, que não fala nem de amor, nem da chuva e muito menos do passado. Só um convite: se um dia tiver que perder tempo, esperando alguma coisa passar, pode vir perder tempo comigo.

PS.: Eu te...

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