Suicide

4.
Ela voltou a agir como uma idiota, voltou a agir como a criança frágil que ele adorava ver chorar, mas ele não conseguia deixar de notar que ela era diferente, imaginava como não notou antes. A levou para jantar fora, usou o restaurante de um hotel e reservou um quarto, ela corava toda vez que ele a olhava com fingido pudor, ela era mesmo uma mentirosa muito boa. Nada nela a fazia parecer diferente do que devia parecer para enganá-lo, exceto que ela próprio o avisou da enganação.
-Por que me trouxe aqui Will? Você não está pensando em... – ela baixou os olhos emudecida.
-Eu estava com fome. – ele olhava por cima da taça, não avistou o pivete por perto, não imaginava mesmo que ele o seguiria. Outra pessoa devia estar por ali.
-E depois que não tiver mais fome...?
-Eu vou dormir. – ele respondeu vendo uma ruiva no canto do salão, tomava vinho sozinha e lhe lançava olhares. Munya corou como um tomate – Sem você...
-O que?!
-Você já virou um brinquedo desgastado. – ele falou com um sorriso maldoso, sabia que a ruiva estava prestando atenção, atenção demais até.
-Will... – os olhos dela se encheram de lágrimas, ele ficou maravilhado com o talento, não era mais bonito, porque ele sabia que era mentira.
-Vai chorar de novo, criança idiota? Procure outra pessoa para aguentar sua choradeira...
-Por que você está fazendo isso comigo? – ela perguntou se levantando.
-Não é óbvio? Você é só um brinquedo, eu não tenho porque ser gentil com você.
Munya saiu correndo entre lágrimas, ele assistiu o murmurio dos outros casais no restaurante com uma certa apreensão, mas sua atenção estava na ruiva. Era melhor não se enganar dessa vez, se levantou e foi até ela, com passos senhoriais atraindo a atenção dos outros clientes, só podia ser ela. Ele tinha certeza porque o garçom parecia embriagado toda vez que passava perto dela, ele bem sabia que eles tinham os meios e poderes para realizar qualquer desejo, mas usá-los daquela forma era simplesmente vulgar. Depois ele é quem quebrava as regras.
-Posso lhe comprar uma bebida?
-Minha taça já está cheia, pode me servir companhia... – Teivel falou sorrindo, ele sentia o sorriso dela como ferro em brasa, se sentiu um boi marcado para abate. Ótimo, aquele tipo de mulher era bem mais fácil. – Mas você parece que já tem companhia. Sua amiga não volta?
-Não sei do que você está falando. Companhia, você é do tipo que parece ter tudo que quer... Me diga, qual seu desejo? – ele perguntou sorrindo gentil, deixava seus sorrisos malvados para outras horas, se fazia de inocente e enganado.
-Meu desejo...?
Realmente fácil, aquele tipo de mulher o deprimia. Não demorou nem dez minutos para levá-la para o quarto, mas é claro, afinal ela provavelmente tinha ordens para ficar sozinha com ele até matá-lo. Ele não sabia como funcionava, ou como aquilo podia acontecer, mas sabia que era praquilo que ela estava ali, afinal Munya o avisou e Cian comprovou horas antes. Teivel, ela disse que seu nome era Teivel, estranho. Ela tinha um gosto salgado e dois passos depois da porta já estava quase sem roupa quando ele a jogou na cama.
-Você não se incomoda se eu for tão rápido? – ele perguntou sorrindo.
-Não, eu gosto... – ela falou o puxando pelo cinto.
-Você devia saber, eu gosto de brincar... – a volta do olhar maldoso, Teivel sorriu lascivamente também. – Tudo bem?
-O que você quiser.
Qual era o plano dela? O envolver e alucinar com um pouco de carne para depois matá-lo, era realmente subestimar demais uma pessoa, por mais que ele não fosse do tipo a dispensar qualquer oportunidade, não era nenhum animal incontrolável e irracional. Ia se divertir com aquilo, a amarrou na cabeceira da cama pelos pulsos com o cinto, via os olhos dela faiscarem e a achava repulsiva, será que Beg parecia daquele jeito quando estava trabalhando? Queria matar aquela imagem, assim podia amar sua irmã de novo.
-Aonde você está indo? – ela perguntou o vendo levantar-se da cama. – Não pare, volte aqui...
-Você é mesmo apressada. – ele falou dando risada. – Você me deseja tanto assim?
-Claro. – ela falou sorrindo separando os joelhos, que mulher vulgar.
-Vivo ou morto?
-Do que está falando?
-Vamos brincar de culpa e inocência? – ele perguntou tirando a meia fina que ela usava, ia ficar no caminho. – Funciona assim, você é inocente até que admita a culpa. É só gritar que confessa, enquanto você não gritar eu vou continuar tentando fazer você gritar...
-Culpada de que?
-De trabalhar para um pivete muito irritante chamado Cian. – ela arregalou os olhos, mas deu risada como quem não sabe do que ele esta falando.
-Quem é esse? Seu irmãozinho?
-Talvez... – ele falou mordiscando o calcanhar dela – Mas sabe, ele me ajudou a perceber uma coisa, ele e minha irmã Beg, que faleceu a pouco tempo.
-Que coisa? – ela perguntou sentindo os dentes dele subindo até seu joelho.
-Todos nós temos essa grande habilidade, mas quando estamos sob influencia de uma certa pessoa perdemos ela. Eu ficava estúpido perto da Claudia, minha irmã perto de Soner e você, Teivel. Acho que tem uma certa tendencia pedófila nessa pele macia...Eu acho que você é cumplice do pivete Cian. Como você se declara?
-Inocente... – ela murmurou.
A verdade é que pela primeira vez ela não estava preparada para aquilo, nunca ninguém mencionara seu mestre antes e funcionou como um encanto. Lembrou de Cian, ele pedindo que não o desapontasse e agora sentia cada dentada daquele miserável, cada sorriso maldoso lhe ardia de raiva, cada gota de... Começou a suar, sentiu a pele esquentando e sua concentração foi se perdendo, sentia as mãos pesadas dele e seus lábios, começou a sentir tontura. Will não era nenhum idiota, sua mente funcionava perfeitamente para deduzir coisas, e ele acertara mais uma vez. Quando as pessoas gostam de alguém ficam idiotas, não conseguem se concentrar e ficam tão fáceis de manipular.
-Ino... – ela não conseguia mais falar.
-Você realmente devia confessar. – ele murmurou desamarrando o espartilho dela, já se divertira demais com o resto, gostava de ver a expressão de frustração dela, mas não era nem de longe prazeroso como a expressão acanhada e inocente de Claudia, ou de Munya fingindo ser Claudia. – Que mulher má e vulgar, vendendo seu corpo desse jeito só pra obedecer o chefe...
-Não... Para! – ela estava ardendo.
-Quando você admitir eu paro. O que é isso...? – ela se encolheu e ele tentou repetir a última coisa que fez. – Ponto sensivel?
-Chega!
-Confessa...
-Ahh... eu... – ela não podia desapontar Cian, podia? Não. Jamais, nunca o fizera antes e não o ia trair agora. O que ele realmente queria? Já sabia que ela trabalhava para Cian, depois podia ficar ainda pior. – Eu desejo...
-Essa não é a brincadeira. –Will estreitou os olhos irritado, como um caçador prestes a abater sua presa.
-Eu desejo...ah... morrer!
Não era o que ele queria ouvir, mas serviu. Com aquelas palavras o calor do corpo dela foi diminuindo, os lábios escancarados e os olhos que fecharam, ele pensava em usar ela contra Cian, talvez descobrir onde ele estava e só depois matá-la, mas pelo menos ele descobriu como eles morriam. Então era assim? Jogou o lençol por cima do corpo dela e foi para o chuveiro, queria lavar fora de si qualquer perfume, traço ou gosto repulsivo daquela mulher. Ele odiava ser subestimado daquele jeito, até parece que uma mulher tão baixa o faria desejar a morte, mas a culpa não era dela... Chefe Cian, a culpa era dele de deixar Will tão bravo. O enganando daquele jeito, tentando matá-lo de uma maneira tão ridicula, ia matar ele, depois iria se aposentar, estava cansado daquele mundo de desejos e funerais. Mas antes tinha que cuidar daquele corpo na cama, aquela criatura repulsiva que o enojava.