segunda-feira, 13 de outubro de 2008

4- A Rainha das Mariposas


Souru se acostumara a ser mal visto pela nobreza, afinal ele era plebeu numa mansão sob os cuidados e afeto de uma duquesa, mas não se deixava perturbar com as palavras cruéis que ouvia, pois sabia que um dia suas linguas arderiam sob cada crueldade e intriga que proferiram, ou pelo menos assim esperava. Mariposas, era assim que ele as chamava, almas feias que pensavam ser borboletas, mas não o eram. A baronesa de Treveau era o que ele gostava de chamar de Rainha das Mariposas, ela se reunia com outras mariposas no centro da sala e falava em tons claros para que todos entendessem que aquele garoto era em resumo tudo de ruim e desprezivel na terra.
-Souru! – Adelheid ainda pequena o chamou com um sorriso acenando com a mão, os olhos duas amendoas calorosas e os cabelos em cachos negros presos com uma fita.
-Adelheid não se atreva! – a baronesa de Treveu gritava batendo com o leque na mão da filha, foi assim que Adelheid aprendeu a manter distância do garoto e ele aprendeu que era melhor manter distância da prole da Rainha das Mariposas. – Não se aproxime dele!
Mas os olhares se cruzavam hora e outra, fosse nos bailes ou na rua, ou até mesmo no funeral da duquesa Borboun, ele estava com Letia no colo num canto da sala e todos se revezavam em dar os pêsames para o bebê sem sequer olhar para o garoto, ela veio a frente de sua mãe segura pelos ombros apertados para que ficasse quieta. Não pôde falar nada, mas ao encontrar aqueles olhos escuros sorriu para ele tentando passar alguma simpatia ou gentileza. A Rainha das Mariposas, de alguma forma, tivera uma filha borboleta.
-Como está Letia? Já se livrou daquele aborto? – a Baronesa perguntava a filha que acabara de chegar à sala.
-Mamãe todos esses anos ele jamais fez algo para alimentar tais idéias. – Adelheid tentou defendê-lo.
-Não seja ingênua, Adelheid! Ele vive sob as custas da duquesa Borboun, sempre viveu! Uma sanguessuga, um parasita. Escória... – a baronesa falou estapeando o ar como quem espanta um inseto.
-Letia está maravilhosa, cada dia lembra mais a mãe. – Adelheid comentou se lembrando da gentil duquesa.
-Ela devia vir morar conosco até casar-se, expulsar aquela escória de sua vida e assumir seu lugar na sociedade.
-Ela parece feliz em sua casa , penso que se sentiria presa e solitária em outro lugar. E ele...
-Nem uma palavra! Não ouse defendê-lo!
-Sim, senhora...
Presa e solitária, era como ela se sentia naquela casa. Os poucos momentos em que podia respirar era quando saía as ruas ou então visitava Letia em sua mansão. Se recolheu ao seu quarto fingindo que penteava os cabelos e se olhava no espelho, fingindo que não tinha vontade de pular pela janela, fingindo que não era uma borboleta presa numa jarra de vidro, se lembrou de sua conversa com a pequena Letia.
-Não tem pena de prendê-las nessa redoma de vidro?
-Pena? Você acha mesmo que elas estão presas, Adelheid?
-E não estão?
-Elas estão livres daqueles que as caçam e as perseguem, livres da solidão de uma vida abandonada. Além do mais... – Letia falou indicando a porta aberta – Nenhuma delas tenta sair daqui. Acha mesmo que estão presas?
-Mas... – ela não entendeu na hora, mas agora dentro de seu quarto vazio ela entendia como era dificil se libertar da solidão e do vazio.
Deixou seu quarto com a intenção de sair de casa para caminhar ao ar livre, mas parou na escadaria ao ver Souru de pé na entrada e sua mãe quase lhe dando uma portada na cara enquanto gritava maldizeres para o rapaz. Ele era tão jovem quanto ela, apenas um pouco mais velho e tinha de aguentar aquilo há anos, ela ficou olhando com pena e medo de se intrometer, ele ergueu os olhos na direção dela. Adelheid estremeceu, mas ele sorriu.
-Senhorita Treveau. – ele acenou com a cabeça.
-Não ouse falar com minha filha nesses termos! – A baronesa berrou e se virou para Adelheid estapeando o ar – Volte já para o seu quarto!
-Baronesa me dê licença... – ele passou por ela sem pestanejar, subindo as escadas na direção de Adelheid sentiu o leque da Rainha das Mariposas o acertar em cheio na nuca.
-Invasor! Criminoso! Sempre soube que não prestava! – ela vinha gritando e a pobre Adelheid estava prestes a enfartar de temor.
-Senhorita isso é seu e apenas a você posso entregar. – ele parou na frente dela estendendo em sua direção um lenço, Adelheid o reconheceu como seu o tomando entre as mãos.
-O que pensa que estava fazendo com algo de minha filha!? – a Rainha das Mariposas gritava maldosamente.
-O... Obri... – ela não conseguia falar.
-Com vossa licença... – ele partiu tão rápido quanto entrou, sem dar atenção a maldade da Rainha das Mariposas.
-Quanta ousadia, aquela escória invadindo nossa casa.

Um comentário:

Ceci disse...

Rainha?Que rainha o que >.<
É uma criatura arrogante,superficial,preconceituosa e tdo mais de ruim que possa existir!
é,não disfarcei minha ira por ela...tbm poxa,dps dessa quem aguenta?Tadinho do Souru...so foi levar um lenço pra ela e a coisa ja se acha no direito de trata-lo assim =P

Antes de tdo eu acho que ela deveria tirar a filha dela desse casulo indestrutivel..dps começar a deixar de ser preconceiuosa >.<

Mas como eu não sou a autora,então eu só desconto a ira aki msm e fiko esperando pra ver se essa mulher se torna um pouco mais humana e deixa de ser tão chata!xD

Capítulo ta ótimo e consegue mostrar bem a cena da discussão,dos berros dela,do sentimento da pobre menina e tda a relação existente entre as borboletas e a vida das personagens.
=)

bjãoo
;**