domingo, 12 de outubro de 2008

Continuando



2- A redoma de vidro



Ela tinha todo o tempo do mundo depois que adentrava aqueles portões de vidro, fizera questão daquele jardim fechado, já que era seu santuário, e todos os dias passeava entre árvores, flores e estátuas que seu guardião fazia com dons dignos dos maiores artistas. Ora ou outra esquecia que era uma duquesa, afinal antes disso era uma criança, então brincava e sorria vendo um borboletear distraído passar por si. Letia Borboun era filha única e órfã, nem por isso triste e abandonada, quando sua mãe morrera deixara a cargo de seu filho adotivo cuidar da criança, mas desde aquele dia ele se chamava apenas de guardião e não criara nenhum laço fraternal com Letia.
- Bem vinda, 203... – Letia deu as boas vindas à uma borboleta amarela dentro de um vidro fechado com uma rede.
Sua mansão era um museu de borboletas, borboletas de cientistas colecionadores nas paredes, quadros e detalhes nas cerâmicas, broches e colares e sua sagrada redoma de vidro. O maior jardim fechado do país onde mantinha sua coleção viva das mais variadas borboletas, Letia nutria uma paixão especial por aquelas criaturas alimentada por contos na hora de dormir e histórias de fadas e magia. Abriu o vidro e assistiu uma se juntar a muitas e virou o rosto, sentia um olhar em sua nuca já há algum tempo.
-Eu sei que você está aí, não importa sua vontade de seu esconder. – Com dez anos ela falava assim, fora letrada cedo, bem educada e passava suas horas nas mais diversas atividades. – Você vai aparecer ou vou ter que te encontrar?
Não ouviu qualquer reposta, então levantou a saia do vestido azul claro com as duas mãos andando pelos caminhos de pedra do jardim olhando de um lado para o outro, torcia os lábios como quem está em dúvida enquanto os olhos buscavam a imagem que queria. Passava por rostos familiares de pedra, tinha estátuas de patricamente todos que já conhecera na vida, com exceção dela mesma e de seu guardião, e alguns outros poucos recém conhecidos.
-Mamãe, onde ele está?
Perguntou a estátua que era o centro da redoma de vidro, no meio de uma fonte ficava a estátua de sua mãe sorrindo serena de olhos fechados e mãos juntas quase que como em prece, os cabelos caindo na frente dos ombros. Claro que a estátua não respondeu, mas se virou bruscamente vendo entre uma estátua e uma árvore o olhar silencioso daquele que sempre a acompanhava.
-Souru, queria dar-me um sobressalto? – Ela perguntou correndo na direção dele que fez uma mesura – Não precisa seguir-me a todo momento, estou segura em minha própria casa.
-Minha única intenção é servir-lhe, senhorita Borboun.
Ele falava bem, com voz tranquila e sedosa parecia um consolo ou caricia gentil, ela se acostumara com aquele jeito de falar e com aquele perfume típico do jardim e de pedra. Souru era um artista, mas antes disso era seu guardião cujos olhos negros como dois buracos a tragavam e estonteavam em combinação com o sorriso simples e sem muito entusiasmo, toda vez que fazia uma mesura seus cabelos ruivos caíam sobre a testa escondendo a escuridão de seus olhos.
-Onde está Parvaneh? – a criança perguntou sentindo falta de algo.
O análisara dos pés a cabeça, a roupa bem cortada e o terno impecáveis estavam lá como sempre, assim como um bracelete de ouro que ela lhe dera de presente, assim como as abotoaduras que ele ganhara de sua mãe, assim como os sapatos engraxados, mas... Ele sempre usava preso justo ao pescoço uma corrente de prata e nessa corrente presa dentro de uma pedra ambâr ficava uma minuscula borboleta lindissima. Por terem crescido com aquela história a chamavam de Parvaneh, ele nunca a tirava, mas ela não estava lá. Ele levou a mão ao pescoço procurando, mas tocou apenas pele.
-A corrente deve ter-se partido.
-Vou procurar! – a garota respondeu num grito e já saiu correndo, ele a segurou pelos braços a tirando do chão.
-Não se incomode com isso, senhorita Borboun. Eu a procuro.
-Mas se eu ajudar vamos achar mais rápido... – ela falou fechando o rosto, sabia o quanto Parvaneh era valiosa para Souru. – Por favor, Souru.
Ele cedeu a vontade dela, ambos refizeram caminhos cotidianos, olhando pela chão e sob as folhas, ela parou sob a copa de uma árvore onde muitas de suas borboletas se escondiam, a circundaram num vôo coletivo enquanto ela procurava entre as raízes, encontrou com várias borboletas pousadas encima Parvaneh.
-Obrigado... – ele falou parado alguns passos atrás dela.
-Mande fazer uma corrente melhor. – ela sugeriu quase que ordenando enquanto passava a corrente para ele.
-Vou lhe compensar. – ele falou guardando a corrente no bolso para que não caísse novamente.
-Como?
-Vou passar a lhe trazer mais borboletas.


Um comentário:

Ceci disse...

Olha,eu não curto borboletas (só as que não são reais xD)e vc sabe disso,certo?Certo.Pois bem,mas eu nunca pensei me interessar tanto por uma história em que o foco central são essas bichinhas que se aparecerem perto de mim eu morro >}

Nessa transição,chegando aos 10 anos de Letia,ficou bem claro que mtaaaa borboleta fez parte dela e que a ligação da menina com as borboletas não só se manteve como também pode ter aumentado.
Ela parece ter uma vida tranquila...mas esse trechinho aqui me deixou meio encafifada xD Ó:" mas desde aquele dia ele se chamava apenas de guardião e não criara nenhum laço fraternal com Letia." Fikei pensando..."poxa,será que essa não criação de laços com a menina pode implicar em certas atitudes para com ela futuramente?" o.O Não sei,mas como em suas histórias tdo é possível e cada vez mais eu me surpreendo eu não posso afirmar nadaaa hauahauaaha só posso esperar ansiosa pra ver no que vai dar^^

Mto bom esse capítulo e agora...QUE VENHAM OS PRÓXIMOS!^^

bjãoo