quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O colecionador



I
Tudo em sua vida era metodicamente organizado, arquivos em ordem alfabetica, móveis de acordo com luz e ventilação do ambiente, quadros de acordo com os angulos de visão dos acentos, comida por grupos alimentares, sapatos por ocasiões, roupas por cores e tipos, além da óbvia divisão do armário por climas. Assim era sua vida e sua casa, completamente organizada e limpa, pelo menos enquanto estava sozinho, mas de vez em quando trancava a porta do seu escritório onde ficavam albuns de centenas de modelos e arquivos e convidava alguém para seu recanto.
-Fique a vontade... – ele mandou tirando o casaco e o dobrando, colocou na mesa do lado de uma caixa.
-Você que tirou essas fotos? – ela perguntou, uma loira esbelta com maquiagem demais e um salto muito alto.
-A maioria... – ele falou tirando uma camera da caixa, apontou para ela que fez uma pose vulgar dos anos sessenta, tirou a foto. Depois iria para o album e aqueles detalhes observados para o arquivo dela.
-Você vai ter coisas melhores pra fotogravar... – ela falou caminhando na direção dele, até seus passos eram vulgares.
Ela tirou a própria blusa, ele largou a câmera. Ela não gostava quando elas faziam coisas fora de seus planos, ele tinha uma ordem: primeiro puxá-las, depois tirava a blusa ou vestido, ia descendo até chegar aos sapatos. Nesse estágio gostava de brincar com elas, deixava suas roupas para depois, mas nesse caso ia ter que mudar os planos. A guiaria até o chuveiro e banheira, aonde com sorte ela perderia metade da maquiagem. Pensou em afogá-la na banheira, mas era bobagem naquela estágio ainda mais com ela com as mãos onde estavam agora.
-Bemzinho, eu vou realizar todos seus desejos... – ela falou mordiscando a orelha dele.
-Eu duvido... – ele a pegou no colo e colocou dentro da água.
-Quando eu acabar você não vai querer me deixar ir embora...
-Não. Quando eu acabar... – ele falou se juntando a ela, a encarou com seus olhos verdes e deu um sorriso maldoso – Vou fazer questão que você vá.
-O que?! – ela começou a se levantar.
-Calma, por enquanto você pode ficar...
Ele não conseguia mentir e além disso não costumava evitar falar nada que pensasse e contestar afirmações alheias, ela ficou brava, mas no mundo todos casais normais usam isso para esquentar as coisas. Quando acabou ela mal conseguia se mexer, parecia mergulhada em algum tipo de estado de extase, ele a deixou de molho na banheira e levou a máquina cujo filme acabara para a camara escura, apreciava o momento sozinho para ponderar, enquanto fazia por si mesmo a revelação ouvia o som irritante dela se movendo pela casa, os saltos batendo no piso.
-Já pegou suas coisas? – ele perguntou fechando a porta que levava à camara escura.
-Está me mandando embora? – ela perguntou vindo na direção dele.
-Sim, faço questão. Tenho coisas pra fazer...
-Filho da puta, cretino. Você acha que pode me usar e jogar fora?
-Não jogar fora. Mas mandar embora, sim.
Ela tentou bater nele, mas era inutil, ele fazia aquilo há décadas e mulher nenhuma conseguiu ficar, a arrastou para fora e trancou a porta com ela lá, ouviu gritos por alguns momentos, mas ignorou. Tinha que limpar aquele lugar e foi isso que fez, mais tarde adicionou a foto dela ao album com seu nome completo no verso, fez a ficha dela e colocou todas suas anotações, desde a irritancia de seu andar até os trajeitos de uma verdadeira vagabunda de rua. Quarto na pasta e colocou na estante, seu escritório estava cheio, em breve precisaria de outra estante do outro lado, as pastas em ordem alfabética e uma única pasta encima da mesa com os dizeres: quase aceitável.
-Oitenta anos e o mais perto que eu cheguei da mulher que eu quero foram vocês... – ele falou deslizando os dedos pela pasta. – Mas ainda não é o bastante.
No primeiro olhar ele já sabia se uma mulher podia chegar a ser aceitável ou não, no caso das completamente descartáveis só brincava com elas por uma noite, as razoavelmente possiveis ele gastava alguns dias e por fim as quais tinham alguma esperança ele demorava entre uma semana e duas para determinar todos os detalhes. A de hoje fora uma descartavel, o hábito o ajudava a exercitar sua observação e companhia a noite nunca fazia mal. Arrumou tudo e apagou as luzes, colocou as roupas para lavar e trocou por outras após um banho devidamente passadas, desdeu as escadas até a entrada pensando em passear até a roupa estar pronta, não ia dormir e deixar as roupas mofando.
-Ótima hora para um passeio... – ele falou pegando a camera e a pendurando no pescoço, já passava da meia noite e ele não tinha sono. Podia tirar fotos das almas desgarradas que vagam na escuridão, quem sabe achasse o seu dia seguinte. – 1, 2, 3, 80. – falou em voz alta enquanto digitava a senha do alarme e deixava sua casa.
Foi a pé, o carro chmava muita atenção e a moto era deveras barulhenta para um passeio de observação, fazia as pessoas perderem o foco do que realmente estava fazendo. Teve que andar muito até sair daquele bairro patéticamente avantajado, mas não se incomodou com a caminhada, mantinha seu corpo em saúde plena. Parou na frente de um prédio, uma criança sentada na calçada brincava com a barra da própria saia a ajeitando, tinha cabelos que caiam em quase ondas, olhos estreitos e um rosto graciosamente curvilineo, afinal ainda era uma criança. Tirou uma foto dela e se aproximou, o barulho da camera a fez levantar o rosto para ele, o olhava com curiosidade infantil, mas precaução animal.
-Quem é você? – ela perguntou, tinha a voz que uma boneca teria.
-Lochan. – ele respondeu abaixando até ficar com o rosto na altura dela, os olhos verdes e os cabelos castanhos arrumados para trás, sorriu. – Sua mãe não lhe ensinou a não falar com estranhos?
-Minha mãe nunca me ensinou nada... – ela respondeu desviando o olhar, ele podia ver na madeira a cor daqueles olhos.
-Nunca?
-Ela não se importa. Ela diz que eu não sou dela, eu não sou de ninguém... – a menininha falou olhando para os próprios pés.
-Ninguém? Onde está seu pai?
-Não sei. – a menina respondeu.
-Qual seu nome? – Lochan perguntou, os olhos brilhando de compaixão, se ela não mudasse, ou melhorasse, talvez...
-May. – ela respondeu com um sorriso.
-May, quando você crescer eu vou te ver de novo. E nesse dia você não vai mais ser de ninguém, vai ser minha... Eu prometo. – Ele se inclinou dando um beijo na testa da menina e depois passou a mão em sua cabeça – Agora vá para casa e cresça...

Um comentário:

Ceci disse...

A coisa ta me instigando.Sim,e mto.
Essas histórias que buscam o passado la no futuro ou que preveem o futuro no presente me deixam mtoo ligada,curto demais isso.
Essa vai ser mais uma das histórias que me deixam curiosa pra saber logo o proximo capitulo e o destino de tds...ta,isso não é novidade mããs eu nao sei explicar o pq nem como,mas essa história se diferencia mto das outras,mais precisamente nesse começo.
Quero saber quem é esse cara,o que vai ser dele la na frente e acima de tdo quem será essa menininha e o que ela passará ao lado deste misterioso homem!

Posta o 2 vaaai? *-*

bjãoo
e ta de parabéns mais uma vez
;**