quarta-feira, 15 de outubro de 2008

6- Asas cortadas


A Baronesa Treveau não era mulher de esperar e logo depois da porta se fechar já planejava vingança contra a raiz do problema, aquele plebeu era a causa de todos os males da nobreza e do surto de tolos pensamentos e comportamento indesculpável de sua filha. Mas toda sua determinação por vingança se tornou preocupação quando no dia seguinte sua filha ainda não retornada, armada até os dentes com veneno em sua lingua ferina ordenou sua escolta até a casa da duquesa Borboun onde esperava encontrar Adelheid. Só de pensar que ela podia estar com aquele garoto imundo e baixo seu coração palpitava de ódio e desprezo infundado que lhe envenenava as veias desde sempre.
-Duquesa! – entrou aos berros sem esperar que fosse anunciada ou que lhe abrissem a porta, mesmo por que apenas Souru e Letia moravam ali. – Letia Borboun!
-Baronesa, fazem meses que não a ouço gritar com furor... – Letia comentou tranquila sentada ao piano, dedilhava algumas notas sem preocupação alguma com a expressão irada que a velha mariposa demonstrava.
-Minha duquesa, vim buscar minha filha! – a Baronesa anunciou com as mãos na cintura, os olhos quase fechados como quem espreita sua caça.
-Adelheid não está em minha casa, a senhora está equivocada se a veio buscar aqui...
-Está sim! – a senhora Treveau gritou e a nota consequente foi desafinada no piano, Letia se virou seneramente para encarar a mulher que começava a mudar de cor – Saiu ontem a noite no encalço daquele serviçal e não retornou...
-Você se refere a Souru?
-Esse traste é a quem me refiro! – ela parecia prestes a espumar – Se algo acontecer a minha filha, pode ser teu criado ou protegido, mas eu o farei caminhar até a forca!
-Sob qual acusação? – Letia perguntou se levantando, tinha mais classe que a rainha das almas feias.
-Sequestro! Homicidio! O que for necessário!
-Que tola e horrenda é sua vingança, sob um falso pretexto e crescendo de um ódio infundado que sente por Souru. – Letia falou tristemente baixando os olhos – Me diga Baronesa, o que vê nele que lhe repele tanto? São seus olhos que a amedrontam? Pois eles podem ver o quão horrenda é tua alma?
-Como ousa menina?!
-Ou seria o fato dele não se curvar aos seus caprichos? Não temer seus berros venenosos? Pensa certo quem diz que no lugar de borboleta tua alma é uma mariposa...
-Insetos? Está maluca?
-Mariposa, senhora Treveau. É isso que a senhora é e seguindo a chama de teu ódio vai acabar queimada... – Letia sorriu – Por favor, perceba vossa tolice e se retire de minha casa. Jamais volte aqui para acusar o gentil Souru ou eu mesma lhe cortarei as asas.
Ela teve medo, pela primeira vez a baronesa Treveau ficou calada diante de alguém e era apenas uma criança! Sentia a honestidade naqueles olhos, uma honestidade fria que lhe jurava arrependimento eterno nas chamas do inferno, atraídas pela luz as mariposas são queimadas e morrem na agonia. Via naquela garotinha o próprio diabo, ou então uma criança retorcida por um vil plebeu que a educara para se tornar escória, medo e ódio se misturaram e a baronesa saltou!
-Pensa em matar-me? – Letia perguntou tranquila.
-Se você ferir a senhorita Borboun eu jamais vou lhe perdoar ou permitir que não pague por seus atos... – Souru anunciou, chegara a tempo de agarrar a baronesa pelos braços antes que ela atacasse a criança.
-Devolvam minha filha! – a baronesa gritou – Seu maldito! O que você fez com ela?
-Volte para seu castelo de intrigas, Rainha das Mariposas. – Letia mandou – Adelheid está livre de você...
-Eu a acompanho até a porta. – Souru anunciou arrastando a baronesa para fora.
A mulher tentava gritar, mas sua voz e lingua venenosas pareciam ter sido roubadas pelos habitantes daquela mansão. Queria torcer o pescoço de Souru, mas seu corpo não a obedecia mais e acabou jogada ao chão do lado de fora da casa, chorava lágrimas de crocodilo se sentindo humilhada e impotente, indefesa e incapaz, esmagada pela tranquilidade que demonstravam diante de sua fúria. Pensou em sua filha, não Adelheid em si, mas alguém que a obedecia e que perdera, Mariposa Rainha só conseguia pensar em si.
-Baronesa Treveau! Baronesa! – seus servos a chamavam, mas ela não respondia.
Carregada até em casa tornou-se um inseto agonizante incapaz de voar, jogada num canto entre poeira e teias de aranha olhava pela janela ou espiava a porta esperando alguém vir cuidar-lhe, mas ninguém veio. Com o passar dos dias esqueceu que tinha uma filha e que ela havia sumido, depois as semanas lhe tomaram a razão de quem ela própria era e meses mais tarde ela padeceria solitária gritando que tudo era culpa do monstro que se fantasiou de principe!

Um comentário:

Ceci disse...

Tooooma!
Bem feito xD
Noss esse "fim" que creio que não seja fim dela,foi mtoo bom...mereceu cada sentimento ruim que passou por ela.

Agora resta saber como que sua filha vai se virar la fora e o que o destina lhes reserva...e hey!Souru parece ser dakele tipo que se revela no final,so nao sei o que ele vai revelar,so imagino que vai!xD

esse título...sonho meu *-*
ta,parei.Que maldadeee...mas não com ela,pq ela mereceu!
sevendayssevenchapters ;D

bjãoo