domingo, 12 de outubro de 2008

Outubro, novo mes cheio de bruxas



1- A lenda de Parvaneh


O próprio tempo já se esqueceu dessa história, onde antes mesmo das almas terem um corpo elas voavam em forma de borboletas entre bosques e montanhas sob a luz do sol e da lua. Mas isso era antes da existência do monstro, um ser cuja fome só era saciada ao devorar almas que ficavam presas entre suas mãos, as engolia de uma vez só e então buscava outras para devorar.
-O monstro...
As almas ficaram com medo, começaram a se refugiar em corpos e em plantas, logo tudo teria alma naquele mundo com medo do monstro aos almas se prendiam naqueles abrigos sólidos onde permaneciam até a morte. Mas o que as almas não sabiam é que assim como o monstro conseguia segurá-las com garras leves que não as feriam, afinal a dor estragava o gosto, ele também podia tirá-la dos corpos nos quais elas se esconderam. O monstro era forte demais... Retirava as almas de dentro dos corpos e estes endureciam sem o sopro da vida até congelarem em forma de pedra.
-Por que você nos devora? – Uma dama perguntou a beira de um lago, era tão linda que o monstro permaneceu alguns segundos a observando antes de responder.
-Eu tenho fome...
-Entendo. – a dama respondeu sorrindo para o lago.
-Não vao fugir?
-Não. – ela respondeu e se virou para o monstro – Eu não tenho medo.
-Por que?
-Eu entendo seu vazio, que você tenta preencher com as almas dos outros. – ela falou se aproximando ainda sorrindo – Eu o entendo e o perdôo.
-Mesmo que eu a mate?
-Eu queria poder preencher seu vazio, assim você não ia mais sentir fome.
Ele arrancou a alma do corpo dela e o segurou antes de cair ao chão, deixou repousar na sombra das árvores enquanto admirava a alma que flutuava no ar, estendeu a mão e viu pela primeira vez uma alma de boa vontade pousar sobre seus dedos. Era a alma mais bonita que ele jamais vira e pode ouvir ela sussurrar: Me chamo Parvaneh.
-Prazer em conhecê-la, Parvaneh. A alma mais linda do mundo... – ele a engoliu.
A sentiu quente em seus lábios e depois pensou que iria sufocar com ela presa na garganta. Não conseguia engolir, nem colocar para fora, mas sentia um calor crescente se alastrar pelo seu corpo, não sentia fome e o ar lhe passava sem dificuldade pela garganta, mas a sentia ali presa em seu pescoço lhe preenchendo o vazio. O monstro jamais conseguiu engolir Parvaneh e a manteve consigo o resto de sua existência. E assim a história acabava, com muitas especulações sobre o futuro do monstro.
-Alguns dizem que ele virou um guardião que protegia damas de alma bela.
-E os outros?
-Os outros dizem que se ressentiu e tentava devorar almas sem sucesso, sendo que Parvaneh lhe bloqueia a garganta.
-E Parvaneh?
-Parvaneh vive para sempre, na garganta do monstro a alma mais bonita do mundo. Uma alma tão grandiosa que pode preencher qualquer corpo e aquecer qualquer ser.
E assim a história que o próprio tempo esqueceu era passada na casa dos Bourbon, a duquesa fazia questão de contá-la para o pequeno garoto que achara na rua e trouxera para criar como seu filho e o instruía para um dia passá-la adiante. Dama bondosa a duquesa Borboun, tinha uma bela alma, mas o corpo padecia aos poucos e deixara para trás uma filha ainda criança no berço.
-Já é hora? – o garoto perguntava segurando a mão da doce dama.
-Minha alma há tempos anseia a liberdade do vôo. Cuide dela por mim... – da filha ou da alma? Ele não entendia, não entendia como olhos moribundos podiam sorrir resignados daquela forma, mas aquiesceu com a cabeça – Meu menino...
-Você não tem medo?
-Não...
Os olhos dela se fecharam na enorme mansão, encerrando toda uma vida e todo uma história que ainda teimaria em continuar em outras gerações. Ele ajeitou suas mãos e cobriu seu corpo, abriu as portas e as janelas do quarto para libertar sua alma que agora era livre. Caminhou até o berço onde uma bebê de olhos azuis e cabelos castanhos esperneava tentando alcançar alguma coisa no ar, ele admirou quando uma borboleta entrou pela janela e pousou na testa da criança que silênciou.

Um comentário:

Ceci disse...

Olha a responsa do comentário...da direito a uma postagem a mais hj!*-*

Bom...eu disse que é delicado?Sim.E é...delicado em várias passagens.O simples fato da história se tratar de almas,natureza e tdo esse universo de fantasia já nos remete a ideia de sutileza,delicadeza.

Algo que é mto forte nesse texto é a capacidade que ele tem de nos fazer ter a melhor das imagens mentais...tdo o cenário,as personagens,as cores...até mesmo o som que nem é citado se mantém presente durante a leitura...sério Mo!Eu lendo e imaginando akeles barulhinhos sutis,de floresta...aii que tranquilidade!x}

Aí qndo o cenário muda e já passa para a cena da morte,da bebê no berço,já da pra ter uma noção que uma importante personagem começa a surgir...e como eu disse,tem um mistério aí sim!Como sempre né?Ai eu fiko querendo ler o próximo logo e vc só fica fazendo vontade >.<

Agora é torcer pra que vc simpatize com o comment e poste 2 hauahauaaha *-*

Enfim,ta aprovada Mo!
;D

bjoo