sexta-feira, 24 de outubro de 2008

5

V

-Então eu só vou te ver de noite? – May perguntou olhando o cartão que ele dera para ela.
-O mais cedo que eu conseguir. – ele reafirmou, ela parecia constrangida com o cartão, ficava olhando de volta para ele como quem não tem certeza – Não se preocupe, dinheiro ajuda a fazer mais dinheiro. Esse cartão é da sua conta, então não vai me causar problema nenhum.
-Minha... conta? – ela nem tinha uma conta de banco.
-Está no nome de Sra. Lochan. – ele respondeu virando a xicara de café – Os empregados chegam daqui uma hora, mas devem ir embora antes de você voltar. Eu quero que você saia e compre tudo que precisar ou quiser. Roupas, sapatos, tudo.
-Mas eu...
-Fred é meu motorista há algum tempo, ele vai te ajudar a carregar e guardar tudo, além de a levar aonde quiser. – Lochan completou.
-Obrigada. – ela falou sem graça.
-Não agredeça, eu vou cobrar tudo... – ele deu um sorriso maoldoso – Só que não com dinheiro...
Ele a puxou da mesa, sua força era equivalente a sua vida organizada que incluia uma hora na piscina todos os dias entre outros exercicios, fez questão de morder os lábios dela que estavam muito pálidos e trêmulos desde o dia anterior. A beijava sem saber decidir entre o cortês e o descontrolado, acabou sendo um pouco mais violento do que esperava ao apertá-la nos braços, May não reclamou. Ela nunca reclamava. A soltou e pegou as chaves, sem falar tchau deixou a casa onde ela ficou sozinha com a caneca de café.
-Bom dia, senhor Lochan. – Fred cumprimentou, era um homem já na meia idade de aparência gentil e prestativa com um bigode bem feito.
-Bom dia, Fred. A senhorita May vai precisar dos seus serviços hoje, me faça orgulhoso.
-Devo levá-la para casa? – Fred perguntou já acostumado com as mulheres que o outro mandava embora todos os dias.
-Não, essa não. Compras, Fred. Se tiver algum problema sabe meu telefone.
-Sim, senhor. Tenha um bom dia.
Ela não conseguia lembrar a última vez em que não tivera um bom dia, melhor, não lembrava quando tivera um dia ruim, todos os outros eram aceitáveis. Diferente das mulheres que nunca eram aceitáveis, até agora... Vermelho não era a cor dela, devia ser mais comedido em suas ações, mas não estava acostumado a ser comedido. Uma vez fora casado com uma mulher, vermelho era a cor dela, acentuava seus cabelos de ébano e olhos de pantera. Fora um completo desastre e desde então ele tinha uma tendência a duvidar de damas que ficavam bem de vermelho, lembrava de sua ex mulher, seus vestidos vulgares e o modo como ela acabou morta numa cama tinta.
-Sr. Lochan? – seu secretário chamou com um documento esperando a assinatura do chefe, estava perdido em pensamentos. – Está tudo bem?
-Estava pensando... – Lochan respondeu enquanto assinava.
-Posso perguntar no que? – era naturalmente curioso o garoto, mas aprendia rápido com isso. Algum dia ele se tornaria um grande empresario, mas não por enquanto, por enquanto era um servil secretário.
-Numa prostituta. – Lochan respondeu, sempre chamara a ex mulher assim, morta há decadas e esquecida em seu passado ninguém a vinha defender. Na verdade todas acreditavam que este homem era neto daquela mulher, se fazer de seu próprio filho e neto sumia com as dúvidas quanto a sua idade ou aparência. – Me faça algo.
-Diga, senhor. – o outro parecia inseguro, ficara constrangido com a resposta ao mesmo tempo que pensativo.
-Me contrate uma. Para hoje a tarde, a mande direto para minha casa.
-Que horas, senhor? – o secretário perguntou sem questionar as intenções do chefe, ninguém nunca questionava um pedido dele.
-As cinco deve bastar... – Lochan respondeu excêntricamente, depois se virou novamente parando o secretário de ir executar sua tarefa com um gesto – De preferência alguma que trabalhe com sadomasoquistas.
-Perdão, senhor? – ele não pode evitar o espanto.
-Preciso de uma resistente. – Lochan explicou com um sorriso perverso que fez seu secretário sair correndo de sua sala.
Lochan era dono e administrador daquele lugar, não respondia a ninguém, mas fazia questão que todos respondessem a ele. Através dos anos sua empresa passava a gerar lucros exorbitantes todos os meses, permitindo assim que ele mantivesse três contas bancárias. A da empresa, com capital de segurança caso precisasse de investimentos de emergência, a sua onde podia pagar suas contas e fazer seus gastos acostumado com sua vida elitista e por fim a da mulher que um dia moraria com ele. A conta não permitia saques, ele demorara para conseguir aquele arranjo no banco, apenas débito no cartão que tinha o limite singelo de algumas dezenas de milhares por mês. Décadas e mais décadas, todas as contas iam muito bem obrigado.
-Senhor Lochan. Seu amigo me mandou esperar por você aqui... – a mulher se vestia quase num padrão burguês, provavelmente profissional na alta roda para não chamar atenção quando visitava seus clientes.
-Não é meu amigo, é meu empregado. – ele falou abrindo a porta. Ruiva falsa, seios falsos, a bolsa de marca também era falsificada. Não havia nada muito real naquela mulher, com a exceção de que a bota de couro e o espartilho que ela escondia por baixo da blusa denunciavam sua especialidade.
-Você parece mesmo muito poderoso... – ela murmurou no ouvido dele enquanto entrava.
-Já pegou seu dinheiro? – Lochan perguntou tirando o terno.
-Metade. A outra você me paga quando acabarmos... – ela falou com um sorriso demôniaco que o divertiu, geralmente era ele quem dava sorrisos maldosos. – Então você gosta de dominar ou ser dominado...?
-Se eu mandar você não falar mais nada na próxima hora a não ser que eu mande, você vai entender o que eu sou? – ela apenas meneou a cabeça que sim. – Boa garota.
Não fazia a menor questão de ser gentil ou educado, seu dia no trabalho fora muito curto e tranquilo, logo que saiu de casa sabia que tinha que se cansar e mesmo que fizesse exercicios não seria o bastante. A questão ali era extravasar, vermelho não ficava bem em May, ele em perfeito estado poderia quebrá-la ao meio, nem perguntou o nome da mulher, para ele era não era ninguém. Quase uma hora depois ele ia ouvir o barulho do carro e recolocar sua calça, virar uma taça de vinho e mandar ela se vestir.
-Pode falar agora. Quanto eu te devo? – ele perguntou pegando a carteira.
-Trezentos. Esposa chegando? – ela perguntou enquanto pegava o dinheiro e recolocava suas roupas.
-Não exatamente.
Quando May abriu a porta ele não tinha reposto a camisa e a mulher só estava meio vestida, sussurrou um boa noite e chamou Fred para colocar suas coisas no lugar, sacolas e caixas. Ele não falou nada, deixou os dois se ocuparem enquanto a mulher acabava de se arrumar e ia embora, ela murmurou algo sobre chamar quando quisesse. Ele não ia querer, ela servira seu propósito, saira de lá com marcas no corpo todo, Fred voltou do quarto e o cumprimentou.
-Boa noite, senhor.
-O vejo amanhã, Fred. – ele se despediu seguindo até o quarto, ficou parado na porta observando May que organizava tudo, estava num vestido azul marinho. – Gostei do vestido.
-Fred disse que era minha cor. – ela falou soltando uma das caixas e desviando o olhar.
-Ele acertou em cheio. – Lochan comentou se aproximando, a puxou pela mão – O jantar está pronto pra você, vou tomar um banho...
-Está bem...
No fundo ele sentia a decepção dela apesar de não ter reclamado, entrou no chuveiro para tirar o cheiro da outra ponderando suas escolhas, aquele vestido realmente ficara bem nela. Provavelmente tinha vestido para ele, provavelmente perguntaria se tinha gostado quando chegasse, mas ao invés disso novamente não quis "incomodar" e saiu de fininho. Quando ele saiu do banho a procurou na cozinha, mas não estava lá, a louça limpa. Foi para o quarto e viu a porta do armário aberto, ela estava quase acabando de guardar os sapatos.
-Você os arruma por cor? – ele perguntou reparando na ordem dos sapatos.
-É, ajuda na hora de escolher depois que me visto. – só agora ele notou que ela estava descalça, se aproximou do armário analisando os sapatos, a maioria com saltos pequenos ou sem salto algum. – Não gostou de algum?
-Faltou um par para esse vestido que você está usando. – ele comentou notando que nenhum combinava como devia. – Faltou mais alguma coisa para você?
-Não. – ela respondeu levantando. – Obrigada.
-Ótimo. – ele falou a puxando pela cintura. – Agora é tarde demais também...
Ela parecia ter prendido a respiração enquanto ele arrancava dela aquele vestido, ficou feliz por ter feito o que fez, estava cansado, se não o teria rasgado. Um vestido tão bonito, uma dama tão bonita, nenhum dos dois podia ser feito aos pedaços, tinha que reaprender o controle, mas por enquanto o cansaço bastava para mantê-lo nos padrões aceitáveis. As dobras nos lençóis, os apertos no travesseiro, tudo parecia corriqueiro, mas ela não era, tinha algo diferente naquele rosto, nos olhos que resplandeciam.
-Essa é a primeira e última vez, eu prometo. – ele falou no ouvido dela, só naquela hora notou os pequenos brincos simples em forma de flor.
-Prom...? – ela não conseguia falar, a voz não saia em forma de palavras.

2 comentários:

Ceci disse...

Nossa!Que realção estranha...digamos que um tanto "exótica".Lochan mistura a frieza com algo a mais que eu ainda não sei definir...talvez uma admiração mto grande por May ser quem ela é e por ser desse jeito que ele nunca encontrou em nenhuma outra mulher.
Eu poderia mto bem dizer "noss que imbecil!ele tem que se decidir logo po...ou so a may ou tds as outras que ele pode ter a qualquer momento",mas sei que numa historia como essa,as coisas são meio complicadas de acontecerem desse jeito...ele sempre foi assim e fico pensando:Será que agora ele muda?
Mas mudar a ponto de merecer a May..tadinha,tão dócil =)

Ótimas descrições como sempre,Mo!

Cade o próóóximo?hehehehe

bjão

Ceci disse...

*relação