sexta-feira, 5 de setembro de 2008

10. Medo

Dentro da pequena caixa preta, um anel de prata com uma pequena pedra vermelha sem valor, vermelha como os olhos dela ficavam enquanto comia, como os lábios ensangüentados que tremeram ao ver ele parado na porta. Ela agradeceu o presente, mas não teve coragem de colocá-lo nos dedos, ele ficou ali quieto por um tempo, então acabou por se sentar.
-Você devia ir embora... – finalmente ela falou olhando pro lado.
-Você quer que eu vá embora? – ele perguntou com a voz baixa.
-Para de falar assim... Você me viu bebendo o sangue do Korone! – Mika exclamou apertando a caixinha preta.
-Eu sei que você deve estar pensando que eu devia ficar assustado ou te odiar, qualquer cara normal faria isso. Talvez gritar ou te chamar de monstro... – ela era mesmo um monstro, uma vampira. – Mas a verdade é que eu fiquei aliviado. – ele sorriu.
-Aliviado?
-Eu sempre via você e o Korone, às vezes eu cheguei a achar que você queria ficar com ele e não comigo. Mas pelo visto a relação de vocês é bem diferente do que eu podia imaginar...
-Azure...
-Eu não me importo com o que você é, Mika. E pelo que eu vi você não parece estar machucando ninguém, então qual o problema? Eu não quero ir embora.
Aquela noite foi muito surreal, mas de alguma forma foi muito boa a primeira noite em que ela teve a companhia do Azure. Ficaram abraçados conversando, coisas casuais e tudo parecia tão comum ao dia e a dia deles, quando se despediram sua mão estava um pouco mais pesada com um anel nela. Não falaram mais no Korone, era como se acidentalmente se criasse um tabu e eles voltassem ao circulo de normalidade, era estranho pensar, mas parecia que nada tinha acontecido. Por um lado ela estava feliz, por outro havia a dúvida dele talvez não ter notado ainda quem ela realmente era. Beau também foi embora, tinha descido as escadas saltitando e deu um abraço apertado na amiga antes de partir sem saber do que tinha acontecido.
-Eu ainda estou com medo...
O murmúrio foi pra si mesma, continuava preocupada enquanto subia as escadas um passo de cada vez, sem fazer barulho e sentindo que seu coração começara a ricochetear ao invés de bombear sangue. Olhou para a própria mão enquanto andava, o anel era bonito. Parou na frente da porta do quarto do Ani, ele estava parado no portal, sem os óculos ele parecia um outro garoto qualquer, só estava usando a calça e torcia os lábios como se estivesse irritado com alguma coisa.
-O que aconteceu, Ani? A Beau brigou com você? – a pergunta fora inocente, mas ele cerrou o olhar como quem lança um olhar mortal.
-Não, a Beau é ótima. – foi tudo que ele respondeu. – Pode vir aqui um pouco?
-O que foi?
Ele a puxou pelo pulso em seguida batendo a porta para que se fechasse, ela conhecia o quarto de sua própria casa, mas a arrumação excessiva de Ângelo o fazia parecer um dormitório de alguma faculdade. Depois de puxada ele acabou a soltando, ficou parada entre ele e uma das paredes com cara de quem não está entendendo nada, nunca o tinha visto tão transtornado, quanto a ele só queria aliviar seu transtorno nela. Ele avançou dois passos a abraçando pela cintura, Mika se sentia desconfortável naquele abraço.
-O que você está fazendo, Ângelo?
-Não posso te abraçar? – ele perguntou em tom irritado.
-Assim do nada, eu não...
-Você nunca reclama quando o Korone te abraça... – Ele replicou a encarando, parecia realmente irritado e estava. Por algum motivo ninguém notava, mas Ângelo era extremamente ciumento e obsessivo. Ninguém sabia, por que ele era só o cara que tomava conta de todo mundo. A mão dele puxou a blusa dela.
-Para com isso, Ângelo. – Ela mandou o empurrando e indo até a porta.
-Não. – ele segurou a porta com as duas mãos parado atrás dela, dava pra sentir a respiração dele na sua nuca. – Eu não quero parar. Você nunca pede pro Korone parar...
-Isso não tem nada a ver, nós só...
-Só se alimentam? – Ele deu risada, uma risada cínica a jogando de costas contra a porta, levantou o rosto dela com uma das mãos. – O que seu namorado ia dizer se soubesse o que eu sei, Rinmotoki?
-Do que você está falando, Ângelo...? – ela já estava se jogando contra a porta, por algum motivo nunca tinha imaginado nele agindo assim, estava com medo.
-Você esqueceu que eu que cuido dos alunos da turma B? É natural que eu saiba tudo sobre todos e eu sei Rinmotoki, eu sei o que significa beber sangue pra um vampiro.
-Não tem nada a ver... – Mika falou tentando puxar a porta mas ele segurou as mãos dela acima da cabeça.
-Não? – as asas dele se abriram, brancas como de um anjo, com aquele jeito de agir que lembrava um demônio. Nunca perguntara o que realmente ele era, mas estava prestes a descobrir. – Eu vou te mostrar, Rinmotoki. Depois me olha nos olhos e me diz o quanto é diferente de quando você bebe sangue...
-Me solta, Ângelo. – Por que não conseguia se soltar? Era de noite, ela não era uma garota humana e frágil, ele podia se soltar facilmente de Korone se quisesse, porque não dele.
-Você não se solta, porque você não quer... – ele falou baixando o rosto até a blusa dela, segurou o zíper com os dentes para o abrir.
-Quero sim, para com isso! – claro que ela queria se soltar, não sabia porque diabos ele ficara assim do dia pra noite.
-Pode-se dizer que esse é o meu poder, eu sou um Inccubus sabia? Por mais que a razão diga que não é da minha natureza fazer com que o corpo de uma mulher não queria sair de perto de mim... É por isso que você não consegue se soltar, Rinmotoki. Por mais que você seja mais forte, o seu corpo não quer se soltar... – ele falou isso pausadamente, a cada palavra mordia um pedaço da pele dela devagar. Mas não sentia calor, apenas um arrepio gelado enquanto as pernas tremiam. – É bom, não é? Quase como...
-Não, não é! – ela gritou.
-Mentirosa... – ele riu.
-É horrível... – lágrimas escorriam pelo rosto dela, uma careta numa mistura de medo e desconforto.-Horrível... – ele repetiu rangendo os dentes. Não entendia como podia ser horrível, simplesmente não era, mas ele notou cada tom de sinceridade. Soltou ela e foi até a cama colocar de volta seus óculos. – Me desculpe, Rinmotoki.

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