quinta-feira, 4 de setembro de 2008

6. Calando a boca

O silêncio dali em diante foi desconfortável, naquele dia enquanto tomavam sorvete. Levantou num pulo ao notar o céu colorido do por do sol, Mika sentiu que o coração ia pular, Azure olhou pela janela entendendo a inquietação e se levantou também pegando suas coisas num gesto ao mesmo tempo rápido e preciso. Ela olhou pra ele pensando em explicar, mas ele simplesmente se virou pedindo a conta.
-Desculpe, eu não vi o tempo passar. – Ele pediu enquanto pagava, de costas para ela escondia o rosto envergonhado.
-Tudo bem, é melhor eu ir pra casa... – ela falou pegando suas coisas e caminhando apressada até a porta.
-Espere. Está ficando tarde é melhor eu acompanhar você... Garotas não deviam andar sozinhas no escuro.
-Não tem problema eu...
-Por favor, é o mínimo que eu posso fazer depois de ter te segurado aqui até tarde. É minha culpa se você vai chegar atrasada em casa.
Ela não conseguiu mandar ele ficar longe, a distância do meio metro se manteve enquanto andavam lado a lado, ela apertando as passadas e ele parecia andar calmamente. Já devia ter notado a essa altura, Azure não era apenas um garoto comum com um rostinho bonito, ele também fazia o tipo saudável que pratica esportes e mantém a forma. Saudável, pessoas saudáveis costumam ter o sangue mais gostoso, Mika sabia disso por que o sangue de Korone, que era um exemplo de narcisista que cuida de si e cultua a si mesmo, tinha um gosto muito bom. Parou na frente do portão, virou para olhar para ele e pensou em dizer boa noite, mas sua boca tinha sido lacrada com a escuridão. Ele podia ver os dentes dela maiores do que deveriam ser, maiores do que eram em plena luz do dia, acostumada em comer assim que chega a noite a fome também já se fazia presente, era melhor ficar de boca fechada.
-Bem... Até segunda, Mika. – ele falou enfiando as mãos nos bolsos, Korone fazia a mesma coisa quando, mas enquanto Azure o fazia quando estava envergonhado, Korone se escondia quando estava nervoso.
-Até... – Mika murmurou quase sem abrir a boca, ele já tinha se virado de costas, mas então deu meia volta conforme o portão rangeu ao seu abrir.
-Mika... – ela simplesmente virou a cabeça na direção dele, não podia abrir a boca.
-Algum outro dia seria legal se a gente pudesse se ver de novo, fora do colégio... – Ele comentou e então desviou os olhos, o silêncio permaneceu, mas dessa vez não era só por que ela não queria mostrar as presas, mesmo que pudesse teria ficado quieta. – Boa noite...
Ele completou depressa indo embora depois de dar um beijo no rosto dela, a caminhada virou praticamente uma corrida fugindo do silêncio. Ela não mandou boa noite, continuou calando a boca enquanto entrava na própria casa chutando os sapatos para longe. Uma mão coçando a bochecha e a outra segurando a barriga que sentia fome, a sala de entrada parecia deserta, mas Korone estava deitado no sofá com uma revista masculina nas mãos, mulheres em posições estranhas na capa. Aquele tipo de coisa era rotineira quando você divide o teto com alguém como ele, por cima da revista o resmungo:
-Você chegou tarde hoje... Saiu com o Azure?
-Sai, ele me convidou pra...
-Não me interessa. – Korone respondeu depressa virando as páginas. – Você é meu jantar, não é como se eu me importasse com o que você faz desde que esteja aqui quando eu estou com fome...
-Quer comer? – Mika perguntou parada ao lado do sofá, os olhos meio perdidos e um meio sorriso, era típico dele falar aquele tipo de coisa. Era a mais pura verdade também.
-Não, eu não estou com fome. – ele respondeu assoviando para uma das páginas, ela já imaginava que tipo de coisa ele estava vendo.
-Boa noite, então... – ela respondeu passando direto até as escadas.
-Não está com fome? – o coração dela estava acelerado e os dentes doíam era verdade, ele já tinha notado que ela sempre comia depois dele, no começo da noite logo que acordava como vampira.
-Está muito quente, vou tomar um banho primeiro...
A água fria ajudou ela a se acalmar, os dias vinham passando tão naturalmente que ela nem notou até aquele boa noite o sorriso de Azure, o jeito como ele pedia com os olhos pra ela olhar de volta pra ele. Enquanto se secava sorria tranquilamente, Korone não guardava esse tipo de surpresas pra ela, ele era simples de entender. Comia quando tinha fome, falava quando tinha vontade, saía com quantas garotas lhe interessassem, vivia a boa vida de alguém despreocupado e desinteressado. Nem saiu da ducha, ainda com a toalha secando os cabelos que respingavam na camisola Korone a esperava do lado de fora, o mesmo olhar de um caçador olhando sua presa. Todos os monstros tinham aquele olhar quando estavam com fome, vampiros, succubus, lobisomens, todos...
-Aqui... – Mika falou estendendo o braço direito, Korone o empurrou para o lado com um tapa.
-Não... Aqui... – ele falou a puxando pela nuca fazendo com que por um momento seu coração desse um salto.
A boca dele grudou em seu rosto mastigando sua vida no mesmo lugar onde Azure desejara boa noite mais cedo. Aquilo só deixava o pescoço dele mais aparente, veias pulsando enquanto ele se alimentava, o corpo dela esquentou. Ela ignorou tudo isso esperando pacientemente ele acabar. Quando o rosto dele se distanciou foi sua vez de saciar a sede, bebeu a longos goles aquele sabor quente que vinha das artérias dele, sua íris âmbar se coloria de vermelho enquanto comia.
-Boa noite, Korone. – ela desejou caminhando na direção do quarto sem olhar duas vezes pra ele, era comum, rotineiro. Era igual café da manhã ou janta.
-Noite... – ele desejou esfregando a boca com a mão direita, lambeu os lábios e antes que ela sumisse decidiu continuar calando a boca.
Era tudo muito natural, afinal de contas monstros se alimentam daquele jeito e não é nada além de comida. Não adianta tentar enxergar mais nada, uma vez que ninguém filosofa sobre o que alguém sente enquanto encara um prato de macarrão, mas a naturalidade quebraria. Assim que Mika notasse que só era natural, se qualquer pedaço de pele servisse uma vez que de qualquer jeito é possível comer, mas por que aquele lugar da pele? Calando a boca ela deixou Azure ir embora e calando a boca Korone a deixou voltar a normalidade de coisas naturais do dia a dia de um monstro.

Um comentário:

Ceci disse...

Eu tinha que encerrar a noite com o capítulo 6...se não eu não sossegava xD

Mas então,to achando muito show mesmo tds esses capítulos que tão se ligando de uma forma bem natural e sem "anormalidades" ou "loucuras de escritor" -akelas q te fazem ler mil vezes a msm coisa pra entender que a personagem fez uma viagem interior e não q ela tenha ido pra algum lugar xD-se bem que isso tb não é ruim,mas em suma quis dizer que ta muito bem desenvolvido e nesse capítulo...teve...akela parte...akela msma...a que eu achei bonita!*-* Ahh...a descrição é feita de uma forma que faz sua imaginação voaaaaar!E akela parte que ela ta apressada querendo voltar pra casa e ele ta calminho?hahahaha Noss Mo,eu fikei super na dúvida se o Azure ia ter alguma prova de que ela é vampira...ou quem sabe ele tb não se revelasse um monstro?xD Ta...pode ter sido meio sem noção,mas q a imaginação voou nessa parte,voou.Muito bacana tb akela parte em que vc estabelece uma relação entre o lugar onde o Konore devorou apele dela com o lugar onde o Azure beijou - que aliás,são os msms x)- Sei lá...da a impressão da divisão de personalidades:Azure um garoto dócil...sendo representado pelo beijo e Konore ja representa algo mais "selvagem",seu instinto de monstro...meigo X voraz.
Háá e pensa que me engana é Konore?Revista masculina...assovio...não dar importância á certas coisas...na verdade isso ta me cheirando a outra coisa,algo q vai sendo revelado aos poucos e que mexe com sua imaginação,mas que de nada adianta pois a escritora adooooora fazer um suspense e sabe mto bem em quais pontos pegar pra continuar com esse clima na série xD

Isso ta ficando meio viciante...o.O mas digamos q a leitura seja um vício bom:to perdoada e vc tb hauahauahauh^^

Bjoo e boa noite!
;**

ps:esperando por novos capítulos!