sexta-feira, 5 de setembro de 2008

15. Mais nada importa

Foram três longos dias, de um silêncio interminável e de um jejum que nenhuma palavra de Korone a fazia quebrar, sempre fora branca, mas agora estava pálida o bastante para seus cabelos ficarem ainda mais vermelhos, os lábios quase roxos fechados e respostas meramente gestuais. Mesmo depois de Beau lhe estapear continuava quieta, olhando ocasionalmente para o anel em sua mão que não queria tirar, a verdade era que não sabia se tinha ou não que tirá-lo. Desde que Azure saíra de sua casa depois de Korone lhe explicar o que significava realmente beber sangue de alguém ela não o vira.
-Mika, se você não comer nada vai acabar caindo desmaiada. – era a voz de Korone, a respiração de Korone. Conhecia aquela respiração morna que repousava sob a sua pele e a aquecia enquanto ele mastigava sua vida.
De fato mastigava, mastigava sua vida como um chiclete e depois cuspia pro lado. Tinha vontade de odiar ele por ter dito tudo aquilo, mas ele só disse a verdade e ela... E ela realmente tinha andando pensando num jeito de afastar Azure antes que ele acabasse se machucando, antes que ela perdesse o controle. Mas agora que ele estava seguro longe dela, ela preferia tê-lo em perigo por perto. Se antes o calor era uma tentação, aquele frio era um tormento que ela não gostava de aguentar, toda a naturalidade da vida cotidiana fora embora, as coisas pareciam fora do lugar.
-Mika!
Mas não respondeu o chamado, sequer tinha forças suficientes para notar que ele próprio parara de se alimentar dela. Conclusão óbvia, seria como roer ossos ao invés de comer o churrasco, ela estava tão fraca que a mera respiração dele podia fazê-la perder os sentidos. Menos que isso, bem menos, sequer andava em linha reta pelos corredores, quando mais pelas ruas, o sol a deixava tonta. Ouviu o ranger das correntes, os balanços com seus barulhos irritantes de vai e volta, caiu desacordada.
-Mika... Mika!
Conhecia aquela voz, também conhecia aqueles braços. Seus olhos que se abriram por poucos segundos foram capazes de ver apenas vultos que a encaravam, vultos masculinos e um vulto barulhento feminino que seu rosto sorriu por acidente ao reconhecer Beau. O que eles estavam fazendo ali? O sol iluminava fios de ouro, era Ângelo de pé ao lado da succubus, mas havia mais, ali ao seu lado, aquelas braços.
-Sua idiota... – Korone costumava lhe chamar assim, mas aquela era a voz do Azure.
Os vultos sumiram na escuridão dos seus olhos fechados, ela foi carregada até em casa, sabia disso. Já não era a primeira vez, mas da última estava sem comer a bem menos tempo, não estava em sua cama, estava no sofá, um toque familiar lhe fazia carinho atrás da orelha enquanto outro lhe estava entre as suas mãos. Sem querer murmurou no sono: fica aqui, por favor, fica aqui. Azure não conseguiu dizer não para aquela figura frágil na sua frente, Beau e Ângelo a deixaram aos cuidados dele e foram embora.
-Você me odeia? – ela perguntou abrindo apenas pequenas frestas do olhar.
-Não, Mika. – Ele respondeu engolindo em seco. – Há quanto tempo você está sem comer?
-Quem te contou?
-Se você não beber sangue vai acabar morrendo. – Ele completou sem responder.
-Não. Eu só vou dormir e continuar dormindo... – ela corrigiu.
-Eu vou chamar o Korone... – Azure falou se levantando, mas ela o segurou com as duas mãos.
-Eu não quero o Korone, eu quero... você, Azure. – ele teve a impressão que ela choraria, mas seu corpo não tinha energia nem pra fazer lágrimas. – Se eu preciso parar de beber sangue pra poder continuar com você, eu vou parar. – ela esboçou um sorriso.
-Sua idiota, eu não ligo pra nada disso! – ela não entendeu, suas mãos o soltaram por acidente. Ele parecia bem mais bravo do que quando Korone falou tudo aquilo. – Se você tem que beber sangue eu quero que você beba até esquecer disso, porque assim você pode ficar comigo.
-Mas... Quando eu bebo...
-Eu não me importo o quanto você gosta disso, ou se o Korone também gosta. Eu não me importo se ele age como se você estivesse me traindo e mesmo que estivesse isso é problema, meu não é? – ele voltou a se abaixar, encostando a testa contra a dela – Mais nada importa pra mim, desde que você me deixe ficar do seu lado, Mika.
-Então por que...
-Porque eu não sabia mais se você queria ficar comigo ou com ele, eu achei que se gostasse de mim ia vir falar comigo... Mas você não veio, ao invés disso ficou achando que eu estava bravo e quase se matou no processo!
-Mas você está bravo...
-É claro que eu estou bravo! – ele acabou rindo de tão nervoso – Depois a gente discute, você precisa se alimentar...
-Mas...
-Cala a boca e ouve seu namoradinho. – era a voz de Korone, ele estava sentado na escada escutando tudo. Não trocou nem meio olhar com Azure antes de estender o pulso para Mika.
Ela vacilou olhando para Azure, esperava que ele desviasse o olhar se recusando a aquela cena, mas ao invés disso ele sorriu. Com carne entre os dentes, sangue escorrendo e um braço em suas mãos, ao mesmo tempo que seu corpo aquecia o seu rosto congelava com lágrimas que caíam. Se conseguisse falar enquanto comia, teria dito: obrigado.

Um comentário:

Ceci disse...

ja te disse tdooo que achei a respeito desse né?Então vou usar o espaço pra fazer um protesto...(só pq eu sei q o capítulo já ta pronto x} )

"QUEREMOS O 16!QUEREMOS O 16!>.<"

E vc nem pra postar o 16 antes de sair né mocinha??xD
Agora eu tava aqui sem nenhuma atividade descente pra fazer...foi qndo minha mãe "me intimou" a ver tds os e-mails que a amiga dela me envia e fica lotando a caixa de entrada...correntes,orações de cada dia,simpatias e as vezes uns vídeos engraçados xP
Foi dificil ler tds akelas correntes T.T hauhauahauahau *mas eu superei!*

Bom,ja deixei meu comentário/desabafo!xD

Bjãão