sexta-feira, 12 de setembro de 2008

IV - Minha sorte, Gato Preto

Aquelas reações eram irreais, eram uma ausência muito grande de qualquer coisa o que tornava inacreditável e se ela não acreditava então não existia. Ela ficava um longo tempo olhando ele do outro lado da rua antes de caminhar para casa, mas depois daquilo apenas Onni a acompanhava, se despedia do gato na mesma esquina de sempre e entrava. Dia após dia aquilo era o que ela fazia, passava mais tempo ao lado daquele animal do que ao lado de seus amigos e mais tempo ainda olhando do outro lado da rua, o homem de camisa meio aberta e olhos que não lhe diziam nada nunca.
-Seth! – ela chamou do outro lado da rua, Onni roçando entre suas pernas, mas ela não deu atenção, os olhos vidrados no homem. – Por que você... Por que você não fica mais perto de mim?
-Por que eu ficaria? Por que você iria querer que eu ficasse? – ele perguntou do outro lado, na noite mesmo falando normalmente eles se ouviam na distância.
-Você sempre...sempre... – sempre tão frio, sempre tão vazio. Nada, nada...
Saiu correndo, Onni correu atrás miando, mas ela ignorou os apelos do gato, não ouviu passos atrás dela e acabou rindo de nervosa enquanto corria. Só animais conseguiam amá-la? Ela era uma pessoa tão inferior assim? Sentia muito por Onni, mas não agüentava mais ver Seth todos os dias, tão frio e distante, tão insensível e vazio de qualquer carinho por ela. Apenas Onni... Sentia muito, mas era doloroso. Um barulho de aceleração, atravessava as ruas sem olhar para os lados, não ouviu o som de freios, se virou no susto para olhar com os olhos verdes brilhando de lágrimas.
-NÃO! – o grito ecoou pela rua, a moto que viera correndo mesmo depois não parou, seguiu seu caminho, fria e indiferente como Seth.
O corpo no asfalto, uma mancha negra que de dia seria vermelha, a respiração fraca que vai parando e ela caindo de joelhos na calçada enquanto assistia os olhos azuis do gato de fecharem. Por que ele tinha corrido atrás dela? Onni, caído ao chão, moribundo. Queria muito naquele momento que só uma superstição fosse verdade a de que gatos possuem sete vidas, estava chorando. Por que ele tinha ido atrás dela? Só ele, sempre só ele.
-Onni... – enxugava as lágrimas com as mangas das blusas, do outro lado da rua Seth estava parado com as mãos no bolso. – Me desculpa, me desculpa... Seth, me desculpa!
-Por que você está pedindo desculpas pra mim? – ele perguntou tirando o gato do meio da rua, caminhou até o lado dela a encarando, o mesmo olhar vazio.
-Será que nem agora você pode parar de ser superficial?! – ela gritou ainda no choro, Onni estava morto, o gato carinhoso e companheiro, como ele podia estar tão frio.
-Quem é superficial aqui? – Seth perguntou estreitando os olhos e sorrindo, o mesmo sorriso que misturava inocência com algo diabólico – Você quis ficar mais perto de mim não quis? Por que? Por nada, só por causa desse corpo... Garotas superficiais como você são muito cruéis.
-Não é nada disso! – ela berrou, sentindo que ele tinha cutucado uma ferida com carvão em brasa.
-Não é? – ele continuava a encarar ela daquele jeito frio.
-Por um tempo eu achei, eu achei que você fosse que nem o Onni... Por que ele é morno, gentil e carinhoso. Por que ele sempre me acompanha e se preocupa comigo, mas você nunca... Nem mesmo agora mostra um pingo de sentimento! Você é o pior! – ela berrou no meio da escuridão.
-Eu falei, não falei? Não há nada em mim além do que você vê... Nada. – a sinceridade e simplicidade a feriram, ele era mesmo oco.
-Onni... – ela murmurou baixando a cabeça e chorando – Você não merece o Onni... Nem eu mereço o Onni, mas ele... Ele merecia coisa bem melhor!
-Dê a ele o que ele merece então... – Seth falou deixando o gato nas mãos dela.
Ela quase entrou em pânico, não sabia o que fazer com um gato morto, mas o abraçou junto ao peito como fazia quando ele era vivo, saiu andando chorando com ele nos braços. Ele era morno e fofo ao toque, tinha os olhos azuis impassíveis, mas um sorriso dentuço alegre. Queria voltar o tempo, aquela corrida toda e ter ela sido atropelada pela moto, ou então ter parado antes e abraçado o gato daquele jeito... Ser amada por um animal, só por ele, que tinha de errado nisso? Seth nunca fez nada para que ela quisesse o amor dele fora lhe ajudar naquele dia, e mesmo naquele dia ele disse que fora pelo gato. O gato.
-Ah Onni... – chegou em casa ainda chorando muito, Seth a tinha seguido de longe, ficou parado na porta aberta enquanto a olhava colocar Onni sobre a mesa, encarando o rosto do gato esperando ele abrir os olhos e olha-la como da primeira vez na rua. – Onni...
-Até que enfim...
-O que? – Célia perguntou irritada para Seth, mas depois de se virar para ele a voz veio de suas costas mais uma vez.
-Até que enfim...
-O que?

Um comentário:

Ceci disse...

é né?Como começar esse comentário sem confessar mais uma coisa aki?Sim...pode pensando num prêmio pq o esperado aconteceu >huunf!<

Ahh Mo...por mais trsite que seja eu ainda o considero o capítulo mais bonito viu?A descrição feita por vc na parte do atropelamento não só me fez chorar como tb me arrepiou e me deu um treco estranho que eu nem sei dizer aki o.O
Sem exageros e momentos emo,mas mewww ficou ótimo,se não perfeito.

Nesse capítulo,os sentimentos são colocados mais ainda em evidência por causa da situação delicada e forte ao mesmo tempo.E o que faz os sentimentos ficarem mais apurados ainda é qndo depois de tdo essa cena,tdo esse desespero sincero da Ce,simplesmente o Seth não demonstra sentimento algum >.< Apenas akele olhar vazio...e as palavras duras de sempre.Ta,eu até entende akela parte da "superficialidade",talvez ele tenha passado por desilusões com garotas que só viam o exterior dele e isso pode ter o tornado vazio.Ou quem sabe não né?Ahh só sei que ele foi mto áspero com ela e que esse momento que vc descreveu ficou meio que chicletado aki na mente...o gatinho morrendo..um gato que assumiu uma posição humana,com sentimentos reais que dão de 10 a 0 em mtas pessoas que não sabem o valor de tudo isso.E não que eu esteja julgando o Seth,pois nunca se sabe o que aconteceu no passado,no presente...e o que isso causará no futuro,mas creio que com essa história vc tenha levantado akela questão de "animais são como nós em certos aspectos"...mta gente acha q se é animal,não tem sentimento,não tem dor,não tem isso nem akilo e se enganam pq mtos são até mais receptivos,amigos e fiés do que mta gente que se diz superior.Nháá ok´s momento desabafo/revolta mas eu tinha que dizer isso *-* Voltando pra história...Mo,nota 10.0000...*tralalás* ^^

Adorei!!
*ansiosa pro ultimo*

bjãoo