sexta-feira, 5 de setembro de 2008

11. Amigos

Coisas demais para um dia só e no dia seguinte continuou a acontecer muito dentro de muito pouco, Ângelo achou um apartamento e saiu sem dizer nada daquela casa. Korone ou ignorava ou não sabia o motivo da mudança, mas como sempre agia desinteressadamente. Beau comentava no dia seguinte que não queria que ela tivesse a idéia errada, quando descobriu que Ani era um Inccubus simplesmente achou que eles podiam se divertir sem se preocupar, afinal de contas eram a mesma coisa. Mika ignorava tudo isso, ficava olhando pela janela e tentando imaginar o quanto era distraída pra nunca ter notado que o politicamente correto e discreto Ângelo podia ser aquele homem medonho.
-Eu não o conheço bem o bastante pra falar nada... – Mika resmungou.
-Mas vocês eram amigos, ele foi o primeiro que você conheceu aqui e até moravam na mesma casa. – Beau falou sem entender a afirmativa da amiga.
-Não quer dizer nada, no fim eu não sabia nada dele. Nem o que ele era, nem o que sentia... – a verdade era que ela estava se sentindo mal.
Ângelo sabia mais sobre ela do que ela sabia sobre ele, sabia tanto que aquilo o deixou irritado e enciumado, o deixou no ponto de atacá-la só pra que ela soubesse que ele estava ali do lado o tempo todo sendo sumariamente ignorado por tanto tempo. Agora que ela parava pra pensar, Ângelo era o único que estava sempre sozinho, mesmo sendo um Inccubus ele não tinha nenhuma garota atrás dele diferente de Korone. Só agora ela tinha percebido, que na verdade ele não era assustador ou mau, era só uma pessoa muito triste.
-No que você está pensando, Mika? Mika? – ela se levantou sem responder – Onde você vai?
-Lugar nenhum. – Desistiu e voltou a se sentar.
Tinha que esperar as aulas passarem, olhava uma hora ou outra para a carteira de Korone que como costumava fazer nas aulas teóricas estava dormindo ruidosamente, um pouco mais distante Beau estava sentada mexendo nos cabelos e logo na frente dela Ângelo anotava tudo concentrado nos ensinamentos. Quando o sinal tocou ele desapareceu nos corredores antes que ela pudesse dizer alguma coisa, acabou indo parar num dos ensaios com Azure sem ter a chance de falar o que queria.
-Está tudo bem? – Azure perguntou lhe dando um beijo na testa, ela tinha se perdido em pensamentos de novo.
-Só foram dias agitados, acho que fiquei cansada... – Mika omitiu a verdade, não via motivo em contar a Azure sobre o que aconteceu e também nem queria tentar imaginar qual seria a reação ao saber.
-Se quiser podemos encerrar por enquanto, ensaiar pensando em outra coisa não vai adiantar. – Ele falou pegando as partituras do dueto com intenção de guardá-las.
-Não. Vamos passar só mais uma vez, por favor?
-Está bem...
Ele voltou a se sentar ao piano, cada nota a deixava um pouco mais consciente de onde estava, gostava daquele música, por mais que não entendesse muito de toda aquela arte. A melodia começava triste, como alguém perdido no meio da escuridão, falava sobre o tempo e os lugares. Depois a música girava e as notas ficavam mais altas, falava sobre pessoas que mesmo sem tempo, se encontravam naqueles mesmos lugares. Pessoas que se encontravam, de algum jeito e por algum motivo. No final da música sua garganta estava quente, soltou a letra da música sobre o piano enquanto ouvia seu coração bater num ritmo diferente.
-Alguma coisa errada?
-Desculpa, eu tenho que fazer uma coisa! Até amanhã... – e saiu correndo da sala sem sequer ouvir quando ele gritou seu nome.
O colégio já estava quase vazio, Korone estava jogando vôlei na quadra aos fundos, mas não era ele que ela estava procurando. Correndo pelos corredores ouviu o barulho de porta se fechando e parou, entre ela e a saída mais próxima estava de novo Ângelo. Parou pra recuperar o fôlego de tanto correr, ele ajeitou os óculos no rosto.
-Eu achei um apartamento barato e perto do colégio, já tirei todas minhas coisas da casa.
-Eu sei... – Mika respondeu ainda sem fôlego enquanto ele se aproximava a passos lentos como quem dá oportunidade dela voltar a correr para fugir.
-Já pedi desculpas também...
-Eu não vim aqui por desculpas, Ângelo. – Mika falou se endireitando.
-Cansou do príncipe encantado então...? – ele perguntou erguendo o rosto dela segurando o queixo, aquele mesmo sorrisinho demoníaco, como nunca o tinha visto antes?
-Não. – O abraçou, se pudesse ver o rosto dele naquele momento seria o de mais puro choque. – Desculpa não ter prestado atenção em você antes, eu nunca me dei conta de nada. Mesmo estando tão perto todos os dias eu nunca percebi você. Me desculpa e por favor, podemos ser amigos de novo?
-Amigos? – ele deu risada a afastando, segura pelos ombros, sentiu um leve arrepio, mas não estava mais com medo. – O que faz você pensar que eu não vou te atacar de novo?
-Você pode ser um Inccubus, mas não é um completo cretino, Ângelo.
-Está bem, vamos ser amigos, com uma condição... – o mesmo sorrisinho, as pernas dela tremeram. – Nunca mais fique sozinha assim comigo. Está bem?
-Ângelo...
-Eu estou falando sério, Rinmotoki. – Ele ajeitou os óculos e deu um passo para trás – Eu gostaria muito de poder ser seu amigo e passar tempos juntos, mas eu não posso ir contra minha natureza. Se você ficar sozinha comigo de novo, mesmo que você grite, chore ou diga que é horrível... Eu não vou me controlar.
-Eu entendi. – Ela falou desviando os olhos e andando até a escada – O Korone vai jogar com o time de basquete no sábado, você devia ir comigo, a Beau e o Azure torcer por ele...
Não esperou a resposta, apenas desceu as escadas correndo sabendo que cada segundo que ela ficava perto dele sozinha era uma batalha mental de um Inccubus contra seu auto controle. Não teve a oportunidade de ver o sorriso dele, esperava que ela o odiasse até o fim dos tempos e achasse o que todos que conhecem um inccubus acham, demônios canalhas que deviam ser mortos. Mas não... Vamos ser amigos? Ele não conseguia segurar o riso. Ele fora honesto com ela, mas ela ainda não conseguira chegar nesse ponto, algumas verdades ainda se escondiam enquanto ela ignorava muito mais coisas em sua vida que depois ela notaria a importância.

Um comentário:

Ceci disse...

Caraca!Confesso que esse final me deixou meio encucada qnto a revelações que possam aparecer futuramente por aqui...o.O

Tb achei mto legal a atitude dela de ir falar com o Ângelo mesmo dps de tdo que aconteceu...digamos que ela deu "um voto de confiança" a ele,que por mais insano,safado,tarado...(ah ok´s,é a natureza dele né?mas mesmo assim...hunf!>.<)acabou mostrando um lado mais "humano" dele qnd se preocupa em ficar sozinho com a Mika^^
Gosto mto dessa construção de personalidades que vc faz,essas misturas de bem e mal,intermediário...sim,suas personagens não se limitam apenas ao "bem e mal" mas não só invertem os papéis como também ficam no meio termo e as vezes nem se revelam...xD O legal é que vc vai descobrindo tdo aos poucos...e isso -apesar da minha curiosidade- é ótimo!

Outra característica que aprecio em suas histórias,em particular nesta é a descrição minuciosa que vc faz:dos sons,das expressões,do caminhar,do clima...enfim,de tudo.Isso nos ajuda a criar detalhadamente a cena em nossas mentes,consequentemente entrando mais ainda na história ;D

Boooom,acho que ja falei demais,vou guardar um pouquinho pros próximos capítulos(que aliás,aguardo ansiosa xD).

Bjãão!
;**