sábado, 6 de setembro de 2008

16. Entre nós

O resultado de ficar três dias sem comer foi deixar Korone a beira da inconsciência, naquele dia Azure teve que carregá-lo até o quarto ou ele teria ficado jogado no chão. Mika se sentiu culpada e passou a noite velando o sono dele, mas dali em diante todo o mundo voltou a girar no ritmo costumeiro, naquela estranha sensação de estar fingindo que nada havia acontecido, tudo parecia pacifico. Korone logo se recuperou e voltou a sua vida de sempre também, refeições no anoitecer e namoradas que nunca duravam sequer uma semana.
-Korone? Korone! – Mika o procurava, uma vez que ele já devia estar em casa. Bateu na porta do quarto dele e ela abriu sozinha – Korone? – ele estava sentado na cama olhando pela janela, o vento fazia a cortina se mover como um fantasma. – Achei que você tinha saído por um instante... – Mika se sentou na cama – Tem algo errado? Você faltou no treino de futebol.
-Eu tenho algo pra fazer, só estava esperando você pra pedir pra não me esperar acordada, querida. – ele respondeu em tom de deboche.
-Então tudo bem...
Tudo estava normal entre eles, não odiava aquele sorriso detestável e nem as ações dele, não odiava o fato dele sempre tentar irritar Azure, não conseguia odiar ele por que em momentos como aquele ele não sorria, mas seus olhos brilhavam. Ela ia se levantar quando ele a puxou a trazendo pra perto num abraço. A respiração dele no seu ombro a fez notar que ele começara, mas não era só aquilo, os braços dele também a apertavam com carinho. Ignorou isso, esperando de olhos fechados sentindo a pele esquentar.
-Cá entre nós, eu não me importo de desmaiar uma garota por ela ficar fraca demais ou nada disso... – ele murmurou com uma risada sem graça – Quando eu provei você da primeira vez, achei que era a mesma coisa... O mesmo gosto doce sem graça de todas as garotas. Eu só aceitei esse acordo, porque depois do por do sol, você tem esse gosto doce e amargo...
-Achei que estava com fome... – Mika respondeu começando a se levantar, mas ele a segurou.
-Só mais um pouco. – Ele pediu como uma criança que não quer acordar.
-Porque me abraçar? Tenho certeza que tem uma fila te esperando pra isso...
-Eu não estou fazendo nada demais, seu namoradinho não vai se incomodar. – Korone respondeu sem responder, ela segurou os braços dele e se resignou àquela vontade.
Foi a primeira vez, que sentiu os lábios dele encostarem na sua pele, ele não estava tentando se alimentar, apenas beijando seu ombro e fechando os olhos. Korone não queria preencher seu estomago e sim sua alma, Mika se levantou depois disso foi até a porta sem olhar para trás até ouvir um farfalhar. Se virou para um Korone de asas negras e marcas que lembravam tatuagens.
-Aquele dia você sorriu... – ele comentou dando risada.
-Que dia?
-Quando eu lhe trouxe no colo, pouco antes de desmaiar de novo. Você sorriu pra mim e é por isso que eu prefiro você que as outras...
Ele pulou pela janela depois de ver o sorriso dela, não num salto de despedida, apenas tinha algo pra fazer. Algo que não tinha nada a ver com as garotas em fila ou a garota que não tinha a menor intenção de correr atrás dele, apenas o fato de Mika não estar interessada nele já o deixava interessado nela. Infelizmente havia um pequeno obstáculo ainda maior entre eles, Azure era quem ela amava por todos os motivos e por motivo nenhum e ele não tinha problemas com isso exceto que aquilo poderia invariavelmente acabar muito mal. Pousou num arranha-céu e desceu pelas escadas de emergência até o andar que tinha que entrar, as asas sumiram, mas as marcas ficaram. Tinha a chave do apartamento no seu bolso, quando girou a porta lá estava quem ele menos queria ver.
-Esconda já essas marcas! Quer me matar de desgosto?! – uma voz de mulher gritou.
-Desculpe, mãe. – Korone escusou-se fazendo os tribais sumirem, marcas de pecado, fundas como cicatrizes que faziam sua mãe o mandar esconder-se num canto toda vez que alguém entrava na casa. Sempre foi assim quando era pequeno, ficava trancado no armário para que ninguém visse o que ele era. – Tinha algo pra me falar?
-Eu e seu pai vamos nos mudar. – a mulher de longos cabelos negros falou sem sequer olhar nos olhos dele, era uma humana comum e de extrema paranóia que escondia tudo de todos.
-Ele não é meu pai... – ele nunca conheceu o próprio pai que era um monstro, sua mãe não sabia até ele nascer, cheio de tatuagens negras pelo corpo. O escondiam com um lençol cobrindo um berço quando era um bebê, dentro do armário enquanto era criança e depois que cresceu ele próprio saiu da casa morando em pensões de fundo de quintal ou nas ruas quando precisava.
-Ele é meu marido! Eu vou pra outra cidade e não quero meu filho sozinho por aí aprontando! – ela falou indicando uma mala com um gesto da cabeça.
-Desculpe, mamãe. Mas seu filho está sozinho por aí faz anos e não é agora que eu pretendo voltar pra casa... – Korone se aproximou da mulher, ela deu um passo para trás como quem tem medo, o rosto dele estava fechado – Eu já cansei de você ter medo de mim e me jogar num canto pra que ninguém mais veja.
-O que você vai fazer? – ela perguntou se encolhendo contra a parede. – Vai assustá-lo? Vai ficar entre nós? Vai me matar?
-É por essas que monstros não deviam se envolver com humanos, vocês não entendem mesmo... – Korone rangeu os dentes e se inclinou na direção dela, a mulher se encolheu, ele suspirou e deu um beijo na testa dela – Seja feliz, mamãe. Pode fingir que eu nunca nasci como sempre fez quando um namorado seu vinha pra casa.
-O que você vai fazer?! – ela insistiu na pergunta antes dele atravessar a porta.
-Tentar ser feliz também... – ele respondeu olhando pra trás com um sorriso – Sabe mãe... Você sempre desviou os olhos de mim ou fez caretas na minha direção, mas eu conheci alguém que mesmo me vendo assim... – as asas dele se abriram e as marcas negras voltaram a aparecer, a mulher fez o sinal da cruz – Mesmo assim ela sorriu pra mim. Um dia eu queria te ver sorrindo também.
Ele foi embora, a porta que bateu atrás dele encerrava as lembranças de uma mulher que sempre olhava por cima do ombro, sempre desviava quando alguém chegava perto, uma mulher que sempre tinha medo, principalmente dele. Deu uma risada sem felicidade alguma enquanto subia as escadas até o topo do prédio, lembrou de sua infância. Tinha corrido para o topo daquele lugar, cansado de ficar escondido nas sombras, as marcas negras que cobriam seu corpo na noite escura, a imensidão lá embaixo. Se jogou como se jogou quando ainda era uma criança, pela segunda vez, ao invés de acabar no concreto lá embaixo planou no escuro. Se nem sua mãe não podia lhe oferecer nada, não tinha que pedir nada a ninguém.

Um comentário:

Ceci disse...

Ela postou! =D
Então...confesso que no começo eu me revoltei mais uma vez com o Korone,por esse jeito debochado de ser não só com a Mika [mas justo com ela??>.<]mas com tdo mundo...só que esse final me surpreendeu!Ele foi uma criança rejeitada por ser dakele jeito e ficou bem claro que foi verdadeiro akele sentimento de alegria q ele sentiu qndo a Mika sorriu pra ele...

É,da pra sentir dó dele sim...agora to ansiosa pra ver o q aconteceu dps q ele planou,pois não ta com cara de que algo "normal" vai acontecer em seguida não..o.O


Vamos conferir então!

bjoo
;**

ps:mais uma vez vc aprofundou akele "tiko" q faltava na personalidade da personagem e ficou mto bom!