domingo, 14 de setembro de 2008

Noite de Lua: Memórias




-O jantar estava ótimo, obrigada! – Sayen agradeceu com o rosto corado, a esposa de Julius cozinhava muito bem.
-Que pena que Hanna não pôde vir. – Julius comentou olhando para a bolsa que Sayen carregava, uma mochila simples. – O que você tanto carrega nessa mochila? No começo eu achava que eram livros da faculdade, mas em pleno sábado você não desgrudou dela ainda.
-É... É só um álbum...
Abraçou a mochila como um mendigo abraçaria um cobertor no inverno, Julius não falou mais nada vendo que ela não queria comentar o objeto muito menos o fato de levá-lo para todo lugar. Conversaram sobre livros, sobre finais tristes e felizes, sobre como antes da última página muita coisa não faz sentido, mas que invariavelmente mais cedo ou mais tarde você descobre o por quê das coisas. Por que? Fizera essa pergunta mais de uma vez para si mesma sem obter resposta.
-Já está tarde não quer uma carona? – Julius perguntou olhando a escuridão da noite, a lua estava na fase nova, o que deixava tudo ainda mais sombrio.
-Não, eu vou ficar bem.
E realmente ficou, era muito difícil alguém mexer na rua com ela uma vez que parecia um garoto e também andava rápido para evitar assaltos e outros problemas. Quando chegou em casa ela estava vazia, deserta como se estivesse abandonada há anos, abriu a porta do quarto de Hanna, mas ele estava arrumado como que abandonado. Foi até a sala e retirando os livros que ocupavam o sofá se deitou abraçando a mochila, abriu o zíper devagar reparando como o barulho ficava alto no meio da noite e tirou de dentro um enorme álbum de fotografias preto e branco.
-Sa-Há! – exclamou virando a capa, desde pequena fazia isso quando abria o álbum, Hanna falava o contrário: Ha-Sá! – Para sempre...
Leu em voz alta a inscrição na primeira folha, logo abaixo a mesma foto que ficava na sua cabeceira, as duas abraçadas sorrindo, ao fundo a árvore do balanço. Fotografias são memórias congeladas, tão frias que a fazem tremer conforme revive cada momento sentindo a sensação morna do momento escapar entre o papel de cada página. Um vazio de saudades e solidão, mas não podia evitar sorrir enquanto virava as folhas e se reconhecia num bebê bochechudo e mais tarde via as fotos de Hanna fantasiada de princesa ainda pequena. Hanna a pegava no colo já que era maior, as duas riam andando de patins, Sayen chorando depois de cair do balanço, Hanna no uniforme de seu primeiro colégio. Ela na formatura olhando para o nada como quem procura alguém, Hanna sorrindo na formatura por ter achado, fechou o álbum com força o jogando do sofá, sem notar tinha acabado chorando e embaçando o óculos.
-Por que? Por que? Por que?
Ninguém lhe respondia e acabava encolhida no sofá falando com o silêncio da casa. Por que ela não podia sorrir que nem a Hanna? Por que aquelas memórias tinham que doer tanto? Caído no chão o álbum ficou aberto numa festa de aniversário, uma mulher morena ao centro soprando as velas, Sayen e Hanna uma de cada lado batiam palmas, no bolo as palavras: Parabéns, mamãe! Foi o último dia que ela sorriu com os olhos brilhando, batia palmas dando risada, dali em diante as páginas de memórias congeladas estavam vazias. Acabou adormecendo no sofá, já que o dia seguinte era domingo ficou se revezando entre refeições de qualquer coisa e olhar o álbum, já sabia todas as fotos e sua ordem de cor, mas ainda olhava.
-Alô? – Não queria ter atendido o telefone, atendeu por reflexo.
-Alô, meu nome é Talita da central de atendimento da Só Você, poderia falar com a Amanda? – era a típica voz feliz de assistentes que fingem que gostam do próprio trabalho ligando para as pessoas e oferecendo coisas.
-Não, não poderia. – Sayen respondeu deitando sobre o álbum, segurando as lágrimas atrás do óculos enorme embaçado.
-Ela não se encontra? Eu poderia ligar em outro horário? – pessoas que ligam oferecendo coisas não costumam ser bem vindas ou respeitadas, mas a garota sabia que não era culpa dela estar fazendo algo incrivelmente idiota. Era o trabalho.
-Não, ela já morreu.
-Ah, me desculpa... – quantas vezes aquele tipo de ligação já tinha se repetido? Perdera a conta e o passar dos anos não fazia as ligações pararem.
Desligou o telefone depois do pedido de perdão e o arremessou contra a parede, a foto do aniversário, a mulher se chamava Amanda e comemorava seus quarenta e dois anos. Hanna e Sayen batiam palmas enquanto sorriam, parabéns mamãe. Hanna puxara a mãe, o mesmo jeito e rosto, o mesmo ar, ela não puxara o pai que nunca conheceu, mas não sentia falta dele. Tivera sua mãe trabalhando por elas e sorrindo, comemoravam juntas em datas como aquela congelada no retrato. Tinha Hanna, que mesmo depois daquele dia continuou sorrindo para ela, cuidando dela. Se a visse chorando daquele jeito ou dizendo obrigado, ela ia lhe abraçar e ia dizer:
-Pra que servem irmãs mais velhas?

Um comentário:

Ceci disse...

...
Sim,essas reticencias indicam o esperado [ou não,afinal vc nem comentou q isso poderia acontecer :} ].Sei que não somente com historias fofas é q isso acontece mas tb com histórias como essa.Siiiim,eu não aguentei e liberei as bolinhas transparentes e liquidas que insistiram em saltar dos meu olhos x'}

Mo...primeiro que me arrepiei qndo soube que elas eram irmãs,tava com uma idéia totalmente difereeente e isso ta ate registrado xD
Ai qndo vi tds as dificuldades que ela passou,a descrição da cena q ela ve o album,atende o tel...AHHHHHH MENINA!VC SABE ME FAZER CHORAR >hunf<
é...mto linda e triste a historia!

Continua com ela Mo *-*

bjãoo