quinta-feira, 4 de setembro de 2008

3. Bem vindo ao lar!

Muito tempo se passou, mais de um ano desde aquele encontro no primeiro colegial e por mais que pensassem nisso pouco tinha mudado desde o muito prazer em conhecê-los. As pessoas não mudam, elas apenas ajeitam suas compulsões e manias aos anos que passam e aos novos lugares. Mika agora tinha que se adaptar a realidade de que seus dois primeiros amigos naquele lugar tinham sido despejados de casa e por algum motivo ela se ofereceu pra abrigá-los.
- Você tem certeza, Rinmotoki?
- Meu pai me deu aquela mansão enorme eu sozinha não consigo ocupar nem a metade, não vejo problemas em vocês ficarem por lá até conseguirem achar um lugar para ficar...
- Mas pode demorar, eu não quero incomodar... – Ângelo respondia com o rosto corado.
- Eu não preciso de favores... – Korone resmungou virando a cara para a janela, o intervalo logo ia acabar e depois dele as ultimas aulas do dia e aí ele teria que voltar para uma casa que nem existia mais.
- Você devia pelo menos agradecer a gentileza, Korone!
- Deixa ele, Ângelo. Bem, vocês sabem onde é quando quiserem a porta vai estar aberta pra vocês eu vou voltar pro meu lugar.
Por que ela estava preocupada? Não estava, era simplesmente uma questão prática. Eles precisavam de um lugar para ficar e ela tinha aquele espaço inútil sobrando, mesmo horas mais tardes ela só iria se dar conta do que ela estava fazendo depois que Beau berrasse em seus ouvidos interminavelmente se ela era completamente maluca.
-VOCÊ SIMPLESMENTE NÃO CONVIDA DOIS HOMENS PRA MORAR COM VOCÊ COMO SE FOSSE O MESMO QUE EMPRESTAR UMA CANETA!
-Para de gritar, Beau! – Mika pediu tapando os ouvidos.
Beua era sua melhor, única, amiga mulher naquela escola, também fazia parte da turma B constituída por pessoas muito esquisitas ou monstros. Beau era inegavelmente qualquer coisa menos humana, qualquer idiota notaria isso ao ver que homens faziam reverências quando ela passava, literalmente. A mãe da garota de cabelos castanhos cacheados era uma succubus, o pai dela ninguém sabe.
-Eles não tem onde ficar, não me custa nada deixar eles usarem os cômodos que eu não uso lá de casa... – Mika replicou assistindo a outra mexer e remexer em seu cabelo, sinal de perturbação.
-Você não entende mesmo o quão inocente você está sendo. Ainda assim vão ser dois homens sob o mesmo teto que você...
-Eles são meus amigos, Beau. Não é como se eu estivesse levando meu namorado pra morar comigo ou coisa assim... – ela não era inocente, apenas confiava neles, eram seus amigos e bem. Ângelo demonstrava mais interesse em pedras do que em garotas, enquanto Korone já tinha garotas demais com quem se ocupar. – De qualquer jeito o Ângelo está hesitante e o Korone já disse que não quer favor nenhum...
-Aquele insensível, podia pelo menos agradecer... – Beau rangeu os dentes.
-Ele não é insensível, só é orgulhoso...
-Por que você não cobra aluguel?
-Eu não preciso de dinheiro... – Mika respondeu.
-Eu sei, mas assim não vai ser um favor e sim um contrato.
Era uma boa idéia, era mais rápido do que procurar outro lugar para alugar da noite para o dia e ao mesmo tempo tirava o clima de caridade. Ficou repensando isso durantes as aulas, na tarde tinha educação física até tarde, depois poderia ir pra casa lembrando de como era bom ter Beau por perto, ela não era apenas bonita o bastante para deixar qualquer um ao seus pés, mas também tinha alguma coisa na cabeça. Antes da aula falou com Ângelo que mais tranqüilo aceitou feliz, mas Korone cercado de sua multidão comum de garotas parecia inatingível especialmente enquanto praticava esportes.
-Onde você está indo, Mika? – Beua perguntou jogando a mochila por cima dos ombros, o suor da educação física dava a ela um ar que fazia a maioria querer cuidar dela.
-Eu esqueci minha blusa na sala, eu te vejo amanhã!
Korone passou na frente dela, apressado mandando duas garotas irem pra sabe-se lá aonde com raiva enquanto entrava no prédio do colégio nervoso. Ela não podia evitar, mas estava indo no mesmo caminho que ele, quando abriu a porta da sala foi a tempo de ouvir um grito enraivecido de “o que você quer” e fitar um rosto cansado e franzido pela raiva.
-Eu esqueci minha blusa... – Mika respondeu caminhando até sua mesa enquanto ele estava recostado em outras duas mais a frente.
-Eu não sabia que era você. – ele respondeu sem fôlego.
-Você está pálido...
-Não enche...
-Julgando que você tem tido problemas na última semana, acho que sei o porquê.
-Mandei não me encher... – Ele falou se levantando, os olhos já eram estreitos, como olhos orientais, ficaram mais ainda enquanto ele encarava com raiva.
-Você não costuma mandar suas fãs pra longe, deve estar faminto... Por isso veio correndo pra cá, pra não acabar passando da conta com elas e levar bronca do Ângelo...
-CALA A BOCA!
Ela nunca tinha notado que sua carteira ficava no fundo da sala até aquele momento, ele foi parar na frente dela muito rápido a empurrando contra a parede, suas costas doeram e isso transpareceu no seu rosto, os braços dele fechavam a saída apoiados do lado de seu rosto contra a parede. Ele estava pálido e sem fôlego, um reflexo opaco do rosto sorridente e sedutor de quando o conheceu.
-Você se alimenta da energia das pessoas, não é? Igual a Beau... – Mika comentou, tanto succubus quanto Korone que ela não sabia o que era se alimentavam da energia das pessoas. Beau roubava a energia de seus namorados através dos lábios, mas Korone parecia poder devorar energia de qualquer parte do corpo. – Você devia ser mais responsável, vir faminto pra um lugar cheio de humanos. Pode devorar a minha energia se quiser...
-Eu já falei que não quero favores. Por que você não cala a boca quando mandam? – ele falou se afastando um passo, mas ela o puxou de volta pela camisa.
-Se você sair daqui desse jeito vai atacar alguém e vai sobrar problemas pra todo mundo, não é um favor pra você. Mas pra mim também... Além do mais eu...
Ela calou a boca, ele a empurrou de novo e sua cabeça bateu na parede, as mãos que estavam no seu ombro acabaram rasgando sua camiseta, ali no ombro mesmo ela achou que ele fosse cravar os dentes. Mas apenas abria e fechava os lábios como quem mastiga algo invisível. Os joelhos dela ficaram mais fracos, foi deslizando na parede e ele ia junto com ela, mastigando e engolindo aquilo que não dava pra enxergar.
-Korone... – a escuridão entrava junto com a noite e as presas dela cresciam.
-Não tem nada a ver com o Ângelo. Eu não quero machucar ninguém. – Ele resmungou soltando os braços dela, as mãos dele deixaram marcas vermelhas – Sua idiota, indo atrás de um monstro faminto desse jeito...
-Precisa mais do que o jejum de um garoto pra me causar problemas. – Mika respondeu sorrindo com suas presas, depois que a noite cobriu o céu se sentia bem melhor, era como acordar de novo. – Você disse que não queria favores...
-E não quero...
-Então ótimo... – o puxou pela camisa de novo e no rosto dele só sobrou a surpresa e a dor de ter a pele dilacerada na altura do pescoço, ela ficara com fome também depois daquilo. A dor aguda o incomodou, mas agüentou calado por orgulho. Não queria mesmo favores. – Agora não é um favor, é uma troca...
De algum jeito o convenceu, sem saber ao certo como. Argumentos de como ele pagaria por isso e aquilo, acordos sobre ele escolher onde ficar e não ter que dar satisfações, afirmativas sobre como seria mais prático. E um pequeno desabafo, que se estivessem todos por perto, era pouco provável que aquilo acontecesse de novo, afinal Ângelo não ia deixar e ela também podia tomar conta dele. A resposta foi um ou dois palavrões enquanto ele voltava a mostrar que não precisava de ninguém, e muito menos de favores, mas acabou indo parar naquela casa.
-Bem vindo...

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