quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Perda

É inutil sabia, sentir saudade do tempo. O tempo não liga pra nada disso, pro que você deixa de sentir ou não, ele simplesmente passa, deixando tudo para trás e oferecendo tudo a frente. Você não pode sentir saudade do passado que jamais vai voltar pra sorrir...
-Eu sorria?
-Sim...
Eu já nem lembrava daqueles sorrisos que na hora foram tudo, agora parecem apenas pedaços de memória atrás das cortinas do tempo. Você não pode sentir falta desse presente, dessa tensão entre aquele sorriso e o que você não conhece. Não importa o que você diga agora, não vai mudar o passado nem congelar o presente.
-Eu queria que o tempo parasse...
-O que você quer não faz muita diferença. Nem tudo é como você quer, sabia?
-Por que você tem que ser tão cruel?
Cruel? Eu nem contei quantas vezes eu fui, falando a verdade sem pensar duas vezes eu acho que acaba desse jeito. Não foi minha intenção ser cruel, mas agora e de vez em quando eu acabo sendo. Não adianta você sentir falta do meu sorriso, a realidade é a crueldade do agora. Eu queria ter segurado sua mão, mas eu fiquei com medo, desse simples toque fazer você pensar que talvez o futuro pudesse ser como imaginamos um dia. Um dia distante que o tempo já engoliu, mas não adianta sentir falta daquele futuro sonhado. Não adianta.
-Eu tenho que ir...
-Já?
-Já. Você também não precisa de ninguém cruel por perto...
-Não é por precisar, eu só gosto de ficar perto de você. Por que você não me deixa ficar perto?
-Não tem nada a ver com deixar.
Eu sorri naquela hora, ao mesmo tempo que baixei os olhos. A vergonha era nitida e por um momento eu imaginei que devia ser patetica aquela cena toda, você devia sentir pena de mim, ou talvez fantasiasse que eu estivesse pensando em ficar. Mas não era nada disso, não tem nada a ver com deixar ou ficar. É tudo muito maior que isso e não adianta sentir saudades, uma vez que você perde alguma coisa é muito dificil conseguir de volta e se for algo que o tempo engoliu é impossivel readquirir.
-Não adianta sentir saudades de mim. Mas...
-Mas?
-Se tudo importa, nada importa... Mas se só uma coisa importa, então todas as outras são insignificantes. Eu não sei... Eu não sei o que realmente importa, mas...
-Você está falando sem falar nada de novo.
-Eu sei.
-Você se importa, por mais que diga que não...
-Você sabe...
-O que é tão engraçado?
-Eu ri?
-Riu...
-É só que... Eu lembrei de uma coisa...
Uma coisa que não volta mais, uma vez que o momento passou e o tempo engoliu em sua existência o meu riso e o seu rosto, as suas palavras e a sua voz. Mas agora eu posso sorrir, por que eu não sinto saudades de nada disso, por que esse momento ainda está comigo, em algum lugar na minha memória. Eu já perdi tudo isso para o tempo, mas o tempo ainda não me perdeu de...
-Tchau.
-Tchau.

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