domingo, 14 de setembro de 2008

Noite de Lua: Sozinha

Era lua cheia de novo, se sentia melhor na lua cheia, mas até voltarem aquelas noites iluminadas decidiu ficar mais forte. Tinha que parar de embaçar os óculos com lágrimas que já deviam ter secado, tomou uma decisão que não achou que nunca seria capaz de tomar e quem lhe ajudou a tomar aquela decisão foi Hanna, guardou o álbum de fotografias no topo do armário e os óculos na caixa, não precisava dele há anos, mas ainda o usava por serem presente dela, se lembrou de quando brincavam de faz de conta. - Faz de conta, Sayen, que um dia eu não vou estar mais aqui e a mamãe vai estar muito longe. – a pequena Hanna dizia enquanto balançava.
-Longe onde?
-Lá no topo do céu! – Hanna falou – Mais alto que um avião!
-Mas você tem medo de avião, Hanna. – Sayen murmurou empurrando o balanço.
-Mas eu não vou estar lá, a professora falou que a lua fica dando voltas na terra. Eu vou estar correndo atrás da lua.
-Correndo atrás da lua?
-É, quando ela estiver aqui eu também vou estar, mas quando ela estiver correndo pelo mundo eu vou correr também! – Hanna falou dando risada – Faz de conta, Sayen.
-Posso ir com você, Hanna?
-Não. – Hanna respondeu parando de balançar e encarando a irmãzinha por cima do óculos.
-Por que? Eu quero ficar com a Hanna! – Sayen gritou começando a sentir os olhos cheios de água.
-Sasá... – Hanna falou descendo do balanço e dando lugar pra irmã – Lembra quando mamãe nos deu o balanço? Ela falou que podia empurrar a gente, mas que um dia íamos aprender a brincar sozinhas.
-Você não gosta de brincar comigo?
-Não é isso, Sasá. – Hanna respondeu empurrando o balanço para a irmãzinha – Mas eu quero que você seja forte e feliz, mesmo sozinha.
Ela era forte e feliz, Hanna sob o olhar de Sayen sempre foi forte e feliz. Mesmo quando ela caía e se machucava, ela nunca deixava de dar risada e dizer que estava tudo bem, mesmo anos mais tarde quando algo dava errado ela sorria e dizia que tudo ia ter um final feliz como dos livros que Sayen lia. Mesmo depois que a mãe das duas morreu, Sayen lembrava de ter sido a única a chorar e se desesperar, se encolher debaixo dos cobertores cercada de livros para não pensar em mais nada. Não precisava mais dos óculos que Hanna lhe dera, não precisava mais tentar ver a via do jeito dela.
-Folga? Claro, mas aonde você vai? – Julius perguntou chocado com o pedido.
-Ao cemitério. – Sayen respondeu sem muita emoção fazendo Julius quase dar um pulo, sorriu pela reação e então explicou – Faz cinco anos hoje desde o acidente de carro que matou a minha mãe.
-Entendi.
Sabia o caminho até o cemitério, mas não ia lá fazia cinco anos, da última vez ficara de cabeça baixa chorando por trás dos óculos e mordendo as mangas da camisa. Dessa vez estava de queixo erguido, sentia Hanna lhe segurar a mão enquanto olhava a lápide simples e desgastada pelo tempo, o silêncio não parecia tão frio quanto da última vez que estivera ali. Sua mãe era uma mulher bonita e forte, como Hanna, ela também queria ser mesmo que fosse pela metade já seria o bastante.
-Você está feliz, mãe? Como é o topo do céu? – Sayen perguntou sorrindo, já podia até imaginar as mil respostas que receberia, não era religiosa nem nada disso, mas ainda assim sua mãe só podia estar no topo do céu. Que nem a lua que Hanna perseguia.
-Sasá, você é forte e feliz? – Hanna perguntou, a voz dela vinha de trás de Sayen que estava com o olhar fixo no nome da mãe.
-Ainda não, Hanna. Eu não sou forte que nem você e eu não sei bem quando eu vou ser feliz, mas... – uma lagrimas escapou. – Eu vou tentar e... Eu vou conseguir sozinha, Hanna.
-Eu sei que vai. – ela sorriu, Sayen sentiu um abraço.
-Mas eu ainda queria muito ficar com você...
-Eu sei... Bo-ba!
-Sa-Há.
-Há-Sá!
Sayen deu risada, deu risada sozinha na frente de uma lápide, se havia alguém por perto devia ter achado muito estranho, a lágrima deslizou assim como seus olhos, baixando pelo nome Amanda até mais embaixo: Hanna. Mãe e Irmã amadas. Limpou a lágrima e esboçou um sorriso indo embora, não ouvia os passos de Hanna, não sentia o toque dela nem a via sorrindo em algum lugar, mas estava tudo bem. Ela devia estar em algum lugar correndo atrás da lua e ela, ela precisava encontrar sua própria noite de luar.

Um comentário:

Ceci disse...

Tds essas cenas da historia parecem que tao acontecendo logo a minha frente.São tão reais as lagrimas dela que passam pra mim o.O

Essa é a historia mais comovente que vc ja escreveu...ta que as outras tb tinham mta comoção no meio mas mewww a Sa parece que só tem tristezas na vida dela =S

Ela meio que "tenta se encontrar" até a parte que eu li.Com a ajuda da Hanna isso vai ser possivel,mas acima de tdo com a propria ajuda dela é que tdo vai ser superado e ela pode começar uma nova vida.

Continuaaaa *-*

(eu ainda vou t convencer a fazer a continuação de cada historia terminada x) hahahah)

Bjãoo Mo!